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Série “O Arquiteto” revive escândalo sexual de Tomás Taveira na televisão

A nova série nacional O Arquiteto, estreia-se esta Segunda-feira na TVI, reconstitui o escândalo sexual envolvendo Tomás Taveira, ocorrido no fim da década de 1980, quando uma cassete com imagens íntimas suas foi divulgada sem consentimento em Lisboa

A série foi escrita por Patrícia Müller e dirigida por João Maia. Conta com seis episódios, exibidos em dias consecutivos a partir de 22 de Setembro de 2025, às 22h30, na TVI.

O protagonista chama-se Tomé Serpa, papel desempenhado por Rui Melo. Ele é um arquitecto de sucesso que mantém vida dupla: na esfera pública, projecção e casamento; em privado, grava encontros íntimos com mulheres sem o seu consentimento.

Carolina, personagem que acredita ser a amante única de Tomé, descobre as gravações e alia-se a Elsa, secretária do arquitecto, numa missão de justiça para expor o abuso. A narrativa adapta factos públicos notórios dos anos 80-90, focando temas como abuso de poder, manipulação emocional, consentimento e o papel das mulheres em confrontar sistemas dominados por figuras aparentemente incólumes.

História real do caso “cassete de Taveira”

O arquitecto Tomás Cardoso Taveira, nascido em Lisboa em mil novecentos trinta e oito, foi a figura central de um dos principais escândalos sexuais em Portugal pós-abril, em 1989.

Tudo começou quando uma cassete de vídeo VHS, contendo imagens íntimas — alegadamente gravadas sem autorização — de Taveira com várias mulheres no seu escritório, chegou a jornais. Segundo fontes da época, um indivíduo anónimo ofereceu a cassete ao jornal Tal & Qual, que recusou adquiri-la. Posteriormente, essa cassete teria sido vendida à revista Semana Ilustrada, que publicou imagens escolhidas do conteúdo.

O escândalo teve enorme repercussão social: rumores, debates sobre privacidade, moral e até sobre censura marcaram os meses seguintes. Apesar da polémica, Taveira continuou a exercer profissionalmente. Algumas das obras mais conhecidas do país, em arquitectura moderna, e projectos de relevo continuaram a associar-se ao seu nome.

Contexto histórico do escândalo original

O escândalo que envolveu Tomás Taveira em finais da década de mil novecentos e oitenta ocorreu num período em que Portugal vivia ainda os efeitos de uma abertura social recente, marcada por transformações políticas e culturais pós-Revolução de Abril. O país assistia a uma lenta modernização, mas persistiam fortes códigos de moralidade e um ambiente conservador que chocava com a exposição pública de comportamentos privados. A circulação da famosa cassete, com imagens íntimas gravadas no gabinete do arquitecto, caiu como uma bomba num Portugal onde a televisão era ainda limitada a dois canais públicos e a imprensa desempenhava um papel central na formação da opinião pública. A revista Semana Ilustrada, de existência fugaz, explorou a polémica ao publicar fotografias retiradas da gravação, provocando debates sobre ética, privacidade e voyeurismo. O caso colocou em confronto a curiosidade popular com a protecção da vida privada, desafiando também os limites da liberdade de imprensa e da responsabilidade social dos média num país em transição.

Questões éticas e reacções actuais

Patrícia Müller justificou a série como uma forma de confrontar realidades incómodas, «de uma merda que existiu e continua a existir». Ela afirma que o objectivo não é escandalizar, mas provocar reflexão sobre consentimento e abuso, sem glorificação de comportamentos criminosos.

O autor não afirma que se trata de biografia pura: embora os traços do protagonista coincidam fortemente com o de Tomás Taveira, o nome e algumas circunstâncias são adaptados para ficção. Há debates públicos sobre os riscos de retraumatizar potenciais vítimas, dado o carácter sensível da história. Algumas vozes defendem que a produção deve garantir que essas vozes sejam escutadas, com consentimento.

Impacto e contexto na cultura portuguesa

Este caso entrou no imaginário colectivo português. Fragmentos do escândalo foram transmitidos informalmente durante décadas, primeiro via cassetes VHS, mais tarde pela internet. Embora nunca tenham sido divulgadas publicamente identidades oficiais das mulheres filmadas, nem haja registos públicos sólidos de condenações criminais relativas à gravação ou divulgação dessas imagens, muitos aspectos ficaram envoltos em rumor.

A série surge num momento em que há crescente atenção para temas de consentimento, poder e abuso, tanto em Portugal como internacionalmente, podendo reacender debate sobre privacidade, responsabilidades jornalísticas e reparação para vítimas.

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