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António Sequeira: O Motor Humano que Nunca Parou

Este sábado, 27 de setembro, nasceu mais pesado. O céu cobriu-se de silêncio e a cidade pareceu suspensa, como se adivinhasse o golpe. A notícia chegou sem aviso e sem piedade: António Sequeira partiu

Ainda o vi esta semana, à porta do Pingo Doce. Conversa breve, como sempre, mas cheia de verdade. Falámos da cidade que ambos amamos, dos sonhos que guardava com a mesma fé de sempre. Sorriu com aquele brilho que não se comprava — brilho de quem vive com sentido. Disse-me que havia ainda muito por fazer. Acreditou nisso até ao fim. E eu também.

António Sequeira foi muito mais do que um nome no desporto motorizado. Foi rosto, voz e alma da Escuderia Castelo Branco. Durante mais de quatro décadas, viveu por e para aquele clube. Presidiu-o em seis mandatos, mas liderou-o todos os dias, com a naturalidade de quem nunca soube viver a meio gás.

Estava sempre lá. Primeiro a chegar, último a sair. Conhecia os nomes e os rostos, o cheiro do alcatrão e o som dos motores. Tratava os voluntários como família e os pilotos como amigos. Não se escondia atrás de cargos. Sujava as mãos, assumia responsabilidades, empurrava a máquina com o coração — como sempre acelerou a vida.

Sob a sua liderança, a Escuderia transformou-se. Ganhou sede nova, nasceu o Kartódromo, regressou o Rali de Castelo Branco ao Campeonato de Portugal. Celebrou-se a história com dignidade e deixou-se um legado escrito no livro “55 anos – Apontamentos”. A cidade deu nome à Escuderia; a Escuderia devolveu identidade à cidade.

O seu lema era simples e verdadeiro: “Juntos somos mais fortes.” Não servia só para discursos. Era o princípio de tudo. Era o que António vivia e pedia aos outros.

Apaixonado pelas corridas, dava especial atenção ao Ralicross e ao Autocross. Fez crescer essas provas, elevou o seu nível, fez delas bandeiras da casa. Foi também presença activa na Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting, onde defendeu Castelo Branco com honra e competência.

Mas António Sequeira foi também — e sempre — um homem da cidade. Um albicastrense atento, interventivo, com ideias claras e voz firme. Tinha o coração em alta rotação quando o assunto era Castelo Branco. Não aceitava o imobilismo. Era crítico, sim — mas construtivo. Propunha, sugeria, discutia. Queria uma cidade mais viva, mais participada, mais ousada. Nunca se resignou. Nunca se calou.

Dizia o que pensava, fazia o que dizia, acreditava no que fazia. Essa coerência vale mais do que qualquer título. Deixa-nos cedo demais. Mas deixa-nos também o exemplo — esse não parte.

Hoje, a Escuderia está de luto. Castelo Branco também. Perdemos todos um construtor, um resistente, um homem inteiro.

Perdi um conhecido de longos anos. Daqueles que sabiam ouvir. Daqueles que sabiam estar.
Tínhamos uma entrevista prometida. Fica adiada — até um dia.

Até sempre, António Sequeira.
Que o som dos motores te acompanhe, onde quer que estejas.

Neste momento de luto, ORegiões apresenta à família as mais sentidas condolências.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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