Senti o cheiro da censura muito antes de ela se mostrar sem vergonha. Em Macau, nos anos que antecederam a entrega à China, vi o jornalismo começar a dobrar-se. Primeiro com meias palavras, depois com silêncios calculados. Assisti à transformação dos jornais em folhas de verniz, sempre prontas a agradar ao poder e a apagar os factos que incomodavam
Hoje, décadas depois, estou na minha terra. Castelo Branco. A cidade onde nasci. E a história repete-se — desta vez sem máscaras. A censura já não chega disfarçada. Vem direta. Vem fria. Vem com o selo dos gabinetes políticos que se julgam intocáveis. Vem de autarcas que se habituaram à reverência e não sabem lidar com a crítica.
Nos Estados Unidos, o jornalismo está a ser encurralado. Notícias dependem de aprovação oficial. Zonas de guerra estão vedadas a repórteres. O Pentágono filtra, censura, condiciona. Os jornalistas tornaram-se obstáculos. Inimigos. A liberdade de imprensa, tão proclamada em discursos, é triturada nos bastidores.
Se isto acontece num país que se gaba de ser o farol da democracia, o que nos espera aqui?
Aqui em Castelo Branco, a guerra ao jornalismo já começou há muito. ORegiões é exemplo vivo disso. Somos tratados como um corpo estranho, como um problema a eliminar. Porque não nos calamos. Porque escrevemos o que vemos. Porque dizemos o que muitos não têm coragem de dizer.
Os que ocupam o poder local tentam sufocar-nos com silêncio institucional. Negam-nos informações públicas. Retiram-nos convites para eventos oficiais. Ignoram os nossos pedidos de esclarecimento. Inventam desculpas. Impõem barreiras. Tudo com um único objetivo: calar-nos.
Não conseguiram. Nem vão conseguir.
Enquanto eu for diretor deste jornal, enquanto ORegiões tiver papel e tinta, vamos continuar a denunciar os abusos, a expor a incompetência, a desmontar as manobras que empurram esta região para a mediocridade.
A liberdade de imprensa não é negociável. Não se pede autorização para publicar a verdade. Não se pede licença para perguntar. O jornalismo existe para questionar o poder, não para lhe bater palmas.
Quem governa com medo da crítica não está preparado para governar. Quem tenta silenciar a imprensa está mais perto da tirania do que da democracia.
Não aceitamos lições de quem se esconde atrás de cargos públicos para proteger interesses pessoais. Não nos vergamos à pressão institucional. Não deixamos de publicar porque alguém se ofende com os factos.
Se querem um jornal manso, bajulador e obediente, procurem noutro lado.
ORegiões não se cala. Não recua. Não obedece.
Hoje é aqui. Amanhã será noutro concelho. Noutro país. Noutro continente. A censura vai alastrando, sorrateira ou descarada, e só há uma forma de travá-la: com resistência. Com coragem. Com jornalismo verdadeiro.
E enquanto formos livres, publicaremos.
Com ataques ou sem eles. Com ameaças ou sem medo.
Fernando Jesus Pires
Diretor do Jornal ORegiões