Os deputados ou, melhor, as deputadas, na voz de Isabel Moreira, não são. O quê? «Não somos um conjunto de doidas». Isabel Moreira está ofendida porque um deputado do Chega, Filipe Melo, fez-lhe beicinho, enquanto discursava. Para não deixar o beicinho do facho cair em saco roto, a filha do enorme Adriano Moreira já abriu uma frente de batalha. Puxou da culatra e disparou: «Quando somos permanentemente insultadas, amedrontadas, ameaçadas, seja nos corredores seja no plenário, isso é uma tentativa de condicionamento, de silenciamento. Se uma mulher, uma mulher negra, uma pessoa racializada, sendo deputada, deixa de estar segura, qual é a mensagem que se está a passar à sociedade»?
Cá vamos nós.
Eu não sei o que é uma «pessoa racializada». Juro. É uma pessoa cruzada com um lagarto? Com um coala? Um coelho? É que raça, diz a ciência há muito, a dos humanos, é só uma, a do homo sapiens sapiens. Logo, uma «pessoa racializada» deve ter enxerto de limoeiro, ramo de loureiro, ou faz francas transfusões de ADN e medula com o bóbi.
Depois, Isabel Moreira representa um histerismo colectivista para o qual não sobra pachorra nem a S. António, nem aos peixes. Então, um imbecil do Chega manda-lhe um beicinho e ela não tem a tempera nem o jogo de cintura de lhe responder à altura, com classe, qualidade e tal “envergonhação” que o deixe reduzido a pó? A melhor saída é ir fazer queixinhas ao Aguiar Branco (olha logo a quem, Isabel), à espera que a comissão do sabemos-lá-nós dê tau-tau no imbecil? Mas isto é entre adultos ou num jardim de infância de freiras?
Para cúmulo, Isabel Moreira (Ah, já me esquecia, deputada do PS) insiste que a «Degradação da democracia passa pelo enfraquecimento das mulheres». Pois, pois passa. Mas estamos cá todos para impedir isso. Há centenas de anos. Agora, Catarina a Grande dava cabo deles à espada.
Hipácia andou a fazer queixinhas ao Aguiar-Branco? Joana comandava um exército de sete mil homens aos 18 anos e terá sido ofendida pelo Filipe Melo, ou tirava-lhe logo a goela? E
Ada Lovelace, que sem ela não teríamos computadores, teria esperado por uma Comissão por alguém lhe ter feito um gesto com a boquinha?
Posso continuar, até às minhas favoritas, até, como já aqui o disse, à enorme Natália Correia. À Hermínia Silva. E, porque não, até mesmo numa noite de copos com Simone de Beauvoir, Rosa Parks, Sara Barros Leitão, Domitila de Carvalho, Gisela João, Ana de Castro Osório, e a gente, que também luta pela mais que justa causa do verdadeiro feminista, na casa da Mariquinhas. A verdadeira, não as falsas.