A Dinamarca afirma que a Europa já sofre uma guerra híbrida, após múltiplos incidentes com drones no seu espaço aéreo, e exige uma resposta militar europeia unida. A advertência foi feita pela primeira-ministra Mette Frederiksen na reunião informal dos presidentes da União Europeia, realizada desde esta Quarta e até Sexta-feira, em Copenhaga
Frederiksen referiu: “Já não vivemos uma situação apenas desde a Guerra Fria, mas desde a Segunda Guerra Mundial” como esta, aludindo à gravidade dos ataques que o seu país sofreu com drones não identificados. O alerta surge num momento em que a Dinamarca preside à UE e acolhe chefes de Estado para debater segurança continental.
Os ataques aéreos não convencionais, prosseguiu a chefe do Governo dinamarquês, representam uma pressão sobre países como Espanha, que retém reservas quanto ao aumento dos gastos de defesa. Frederiksen evitou criticar directamente o executivo espanhol, mas reforçou a necessidade de um objectivo comum europeu para responder a ameaças emergentes.
“Todos devemos rearmar-nos. Se não estivermos unidos, estaremos divididos e isso não é bom para a Europa”, acrescentou. A posição é ecoada por aliados do Norte, mais directamente expostos às provocações russas com drones.
Fortalecer a defesa: o “muro de drones” europeu
A construção de um muro de drones (sistema conjunto de detecção, interceptação e neutralização), já debatida entre países da frente leste da UE, emerge agora como prioridade face à escalada das incursões aéreas.
A Letónia, por exemplo, estimou que o sistema poderia estar operacional em um ano e meio, prazo consideravelmente menor do que os três anos inicialmente previstos.
O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, saudou a proposta, sublinhando a disparidade entre o custo elevado de interceptar um drone e o valor modesto dessas aeronaves — argumento que reforça a urgência da cooperação colectiva.
Além disso, Países como França, Alemanha e Suécia já se comprometeram a prestar apoio militar à Dinamarca, enviando equipamento antimíssil e sistemas anti-drone para reforçar a segurança durante a cimeira em Copenhaga.
Incursões recentes e ambiguidade nas responsabilidades
Entre 22 e 28 de Setembro, drones não identificados sobrevoaram aeroportos e bases militares dinamarquesas, incluindo Copenhaga, Aalborg e Skrydstrup, forçando fechamentos temporários e alarmando autoridades nacionais e europeias.
A Dinamarca classificou essas incursões como ataques híbridos, sugerindo que combinam ação militar e provocação política. O ministério da Defesa reconheceu que o responsável é um “actor dotado” de capacidades sofisticadas, sem, no entanto, acusar formalmente nenhum Estado.
Em reacção, a NATO reforçou a sua presença no Báltico, dentro da sua missão de vigilância e defesa, incluindo a mobilização de fragatas e meios de inteligência suplementar.
Outra medida adoptada foi a proibição temporária de voos de drones civis em parte do território dinamarquês, para mitigar riscos de escalada durante os encontros europeus.
Desafios políticos e diplomáticos
A posição da Dinamarca contrasta com a de alguns países do Sul da Europa, como Espanha, que reluta em aumentar o orçamento militar acima de dois por cento do Produto Interno Bruto. Ao evitar críticas directas, Frederiksen propôs que cabe à União decidir uma meta comum de defesa, afirmando que a fragmentação seria nociva ao projecto europeu.
Fontes diplomáticas indicam que já há pressão sobre o governo espanhol para rever as suas obrigações em matéria de defesa. Por outro lado, o primeiro-ministro finlandês Petteri Orpo foi claro ao defender uma estratégia mais robusta para financiar o muro antidrones.
Em paralelo, na véspera da reunião da Comunidade Política Europeia (a ter lugar em 2 de Outubro), serão debatidos outros temas de segurança, como a utilização de recursos russos congelados para financiar a reconstrução da Ucrânia e reforçar os mecanismos de defesa conjunta europeia.
Perspectiva e implicações
Se confirmada a hipótese de que Moscovo está por trás das intrusões aéreas, estar-se-á perante uma escalada de confronto não convencional dentro da própria União Europeia — algo inédito desde a Segunda Guerra Mundial, nas palavras da primeira-ministra dinamarquesa.
Caso a UE avance com a proposta do muro de drones e uma estratégia militar coordenada, o continente poderá ganhar maior autonomia defensiva histórica, reduzindo dependência exclusiva da NATO ou dos Estados Unidos.
Entretanto, o êxito dependerá não só de vontade política, mas de rápido investimento tecnológico e integração dos sistemas nacionais de defesa. As próximas semanas serão decisivas para traçar o rumo estratégico europeu numa era em que a guerra já se faz nas fronteiras da União.