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Tony Blair lidera Paz em Gaza, em Comité sem palestinos nem muçulmanos

O ex-primeiro-ministro britânico é designado para integrar o Comité de Paz para a Faixa de Gaza, uma estrutura apoiada por Israel e países árabes, mas ainda dependente da aceitação do Hamas.

Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, foi apontado como membro do recém-criado Comité de Paz para a Faixa de Gaza, iniciativa acordada pelo antigo presidente norte-americano Donald Trump e pelo primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu. A decisão, avançada pelo diário britânico The Guardian, coloca Blair de novo no centro do processo político do Médio Oriente.

Segundo a mesma publicação, o comité ainda não está formalmente constituído, dependendo da aceitação do Hamas, organização considerada terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia. Até ao momento, Blair é o único nome confirmado, para além de Trump.

Apoios regionais ao novo comité

A proposta do comité conta com o apoio de Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, países que procuram enfraquecer e, em última análise, eliminar a influência do Hamas no enclave palestiniano. A eventual participação de empresários como o egípcio Naguib Sawiris e o norte-americano Marc Rowan, bem como do ex-assessor diplomático Aryeh Lightstone, está ainda em avaliação.

Nenhum dos potenciais membros é palestiniano ou muçulmano. Sawiris pertence à comunidade copta egípcia, frequentemente alvo de ataques extremistas, enquanto Rowan e Lightstone são judeus. Este último esteve envolvido nos Acordos de Abraham, que abriram caminho ao estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e vários países árabes em 2020.

Um regresso controverso

Blair não é estranho à política da região. Entre 2007 e 2015, desempenhou funções como enviado especial do chamado Quarteto — Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas — criado para promover reformas em Gaza e na Cisjordânia. Apesar de alguns avanços económicos, o processo de paz não registou progressos significativos.

Na altura, o envolvimento de Blair foi criticado pela sua ligação à guerra do Iraque, onde foi um dos principais aliados de George W. Bush na invasão de 2003. A decisão marcou de forma duradoura a sua imagem no Reino Unido e no Partido Trabalhista, onde se tornou uma figura divisiva.

Ligações empresariais sob escrutínio

O regresso de Blair ao palco do Médio Oriente surge também acompanhado por críticas às suas actividades posteriores à saída do Governo britânico. O Instituto Tony Blair para o Mudança Global (TBI), fundado em 2016, foi associado a projectos elaborados com a consultora norte-americana Boston Consulting Group que, segundo o Financial Times, incluíam propostas de deslocação forçada de habitantes de Gaza. O TBI negou qualquer intenção de promover tais medidas.

Além da sua actuação política, Blair tem mantido relações próximas com grandes grupos financeiros internacionais. Em 2012, participou em negociações de peso no sector mineiro, o que reforçou a sua imagem de lobbista influente.

Novo contexto no Médio Oriente

A conjuntura regional é hoje diferente da que Blair encontrou há quase duas décadas. Vários países árabes normalizaram relações diplomáticas com Israel, enquanto a influência iraniana continua a ser o principal ponto de fricção. Neste cenário, a designação do ex-primeiro-ministro britânico surge como tentativa de projectar uma liderança ocidental sobre a reconstrução de Gaza.

Ainda não existem detalhes concretos sobre o mandato, as funções ou os objectivos imediatos do Comité de Paz. Porém, a presença de Blair é vista como um sinal de que os aliados de Israel pretendem dar maior legitimidade internacional ao processo.

Desafios pela frente

O maior obstáculo permanece a aceitação do Hamas, que controla Gaza desde 2007. Sem a sua concordância, qualquer iniciativa carecerá de eficácia prática. Resta saber se a presença de Blair, figura com experiência e notoriedade global, poderá abrir canais de diálogo ou, pelo contrário, agravar desconfianças entre as partes envolvidas.

Aos 72 anos, Tony Blair regressa, assim, a um dos palcos mais complexos da política internacional, num papel que poderá definir não só a sua herança política, mas também o futuro imediato da Faixa de Gaza

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