Sábado,Outubro 4, 2025
11.4 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Joana Marques, o Acne e o Canto como Crime de Guerra

Não é todos os dias que um juiz português tem graça. Aliás, os que têm são, por norma, afastados a tempo, antes que alguém se ria por engano e cause um terramoto no Código de Processo Penal. Mas desta vez, a toga decidiu rir-se. A juíza que absolveu Joana Marques fê-lo com aquele tom de quem lambe uma colher de vinagre balsâmico e diz: “Delicioso”. E absolveu com estilo, dizendo que não percebeu se o acne do Nelson Rosado veio da emissão original do hino ou da paródia. Isto é Justiça com maiúscula e com maquilhagem incluída.

A sentença foi tão inesperada como uma sinfonia interpretada por um aspirador de pó e um peru com asma. Não só se deu razão à humorista, como se reconheceu oficialmente que os “Anjos” cantaram mal. Muito mal. Tão mal que aquilo não foi uma interpretação do hino nacional, foi um atentado à integridade auditiva da República. E com isso se abre um precedente: finalmente, desafinar em público pode ser considerado um acto legítimo de humor involuntário.

Joana Marques não precisou de defesa, bastou-lhe o arquivo da RTP. Porque quando a prova do crime é o próprio crime em estéreo digital, não há advogado que aguente.

Tribunal Plenário Remixado por DJ Desespero

Há, no entanto, uma tragédia a pairar por detrás desta comédia jurídica. Não a do grupo “Anjos”, cujo karma musical lhes entregou o fado da desafinação — mas o da própria Justiça portuguesa. Porque se hoje foi uma juíza com tino, amanhã volta o carrossel dos aprendizes de feiticeiro togado. Os que saem do Centro de Estudos Judiciais, esse atelier de costura onde se fazem magistrados a metro, com moldes de papel pardo e cérebro de esferovite reciclada.

O CEJ, para os mais distraídos, é onde os futuros juízes aprendem a distinguir homicídio de homicultura. Ali estudam Direito como quem aprende a programar um micro-ondas em húngaro. Muitos saem de lá prontos a decidir sobre vidas humanas com a mesma segurança com que um panda decide qual o lado da folha de bambu que deve mastigar. E, mais assustador, acham que sabem.

A Justiça portuguesa não é lenta — é um senhor idoso que adormeceu no meio da frase. E os novos magistrados são como chouriços veganos: não têm sabor, nem consistência, nem o mínimo de decência tradicional. Vêm todos temperados com arrogância líquida e a ideia de que o poder judicial é um ‘escape room’ onde se ganha com frases feitas e olhares severos.

Apocalipse Legal com Flash Mob de Códigos Desactualizados

Temos, pois, uma elite de pseudo-deuses que, armados com sentenças copiadas de acórdãos anteriores e a auto-estima de um influencer de unboxing de torradeiras, decidem quem deve ou não ir para a prisão. São jovens que nunca plantaram uma batata, mas que acham que podem decidir sobre a vida de quem planta todas. Gente que nunca mudou as pilhas ao comando, mas acha-se competente para mudar o destino de vítimas de violência doméstica com um despacho por PDF.

E é nesse universo surreal que uma humorista foi levada a julgamento por dizer que um cantor desafinou ao ponto de provocar acne. Quando um país leva à barra do tribunal uma piada, é sinal que o seu sistema judicial anda a fumar fotocópias do Código Civil. E ainda assim, fomos salvos. Por uma juíza que se atreveu a rir. Um gesto revolucionário, digno de figurar na próxima reedição do “Código das Boas Maneiras em Tribunal (com banda sonora opcional).”

A juíza, ao ver o vídeo da actuação, terá perguntado: “Mas isto é real? Ou estão a tentar fazer-me acreditar que isto foi emitido por vontade própria?” E ao perceber que sim, que alguém achou que era boa ideia os “Anjos” cantarem o hino, sentenciou com um misto de pena e riso.

O Regresso dos Deuses do Pop-Judicial

Fica, portanto, uma lição: o humor ainda pode ser salvo, desde que haja pelo menos uma pessoa sensata por tribunal. Uma. Não duas. Uma. Porque duas já dão origem a sindicância. Joana Marques foi absolvida, e com isso ganhámos todos: a liberdade de expressão, o direito ao sarcasmo e a coragem de dizer que nem tudo o que se canta é música.

Mas cuidado: o próximo juiz pode ser um daqueles que confunde ironia com difamação e sarcasmo com sedição. E assim, entre um verso mal cantado e uma sentença mal escrita, ainda acabamos todos no banco dos réus por rirmos em público de coisas sérias — como o talento vocal dos “Anjos”.

Finalizando com um elogio pós-moderno: parabéns à Justiça portuguesa por este raro momento de lucidez. Foi como ver um elefante a dançar ballet numa loja de porcelanas — desajeitado, mas inesperadamente encantador. E ao menos, desta vez, ninguém ficou com cicatrizes. Excepto, talvez, o Nelson Rosado. Mas isso foi só acne.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor