Luís Montenegro lamenta o episódio dos aviões que passaram pela Base das Lajes, nos Açores, e fala num erro processual que decorreu no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Primeiro-ministro assegura que Paulo Rangel está já a trabalhar para alterar procedimentos. Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros assumiu que foi um erro interno do seu ministério e que só foi devidamente informado depois de perguntas do Expresso
Luís Montenegro reagiu publicamente ao caso da passagem pela Base das Lajes de três aviões vendidos pelos EUA a Israel. Para o primeiro-ministro, a falta de informação foi apenas um erro processual dentro do Ministério dos Negócios Estrangeiros e que não é caso para demissão de ministros.
Em declarações aos jornalistas, à margem de uma ação de campanha na Nazaré, Luís Montenegro associou os pedidos da oposição ao período de campanha eleitoral. “Lamento que tenha havido um erro processual no início, quando a questão foi suscitada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros”, começa por dizer, garantindo que o erro “está neste momento identificado”. “Não há mais nada a dizer sobre isso, porque tudo o resto foi uma tramitação perfeitamente normal”, assegura.
“Não percebo mesmo porquê estas reações estão radicalizadas, pedindo demissões de ministros. Era o que faltava que o Governo encarasse decisões, que são normais, com esse tipo de espírito, mas estamos em campanha eleitoral e, se calhar, também tem a ver com isso”, defende Montenegro.
Questionado sobre se este episódio não mostra descoordenação no governo, o primeiro-ministro recusa essa ideia e garante tudo aconteceu apenas num ministério, o de Paulo Rangel. “Não houve propriamente falhas de comunicação”, diz, garantindo que “a informação que tinha de ser transmitida entre ministérios decorreu normalmente”.
“O que houve foi no Ministério dos Negócios Estrangeiros um procedimento que não chegou ao conhecimento do senhor ministro no tempo em que era necessário que tivesse ocorrido”, descreve. “Isso está assumido. O senhor ministro está, aliás, a refletir sobre a mudança dos procedimentos internos para que situações destas não ocorram”, acrescenta, desvalorizando o sucedido. “Vamos ser claros: a única circunstância que não devia ter acontecido foi que houve uma primeira informação que não era completamente exata a um jornal que, por acaso, nem era português”, conclui.
Aliás, o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, já tinha assumido, quinta-feira à noite, que a responsabilidade pela falha de informação em relação aos F-35 que fizeram escala nas Lajes a caminho de Israel é da exclusiva responsabilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e não do Ministério da Defesa, tutelado por Nuno Melo.
“Isto não tem nada a ver com o Ministério da Defesa. Ninguém responsabilizou nenhum Ministério da Defesa”, afirmou o governante numa entrevista ao Canal Now, apesar de ter referido, na primeira nota que o Ministério emitiu sobre este caso, que a comunicação sobre os voos que não lhe foi transmitida já “vinha já com parecer favorável da AAN (Autoridade Aeronáutica Nacional, dependente do Ministério da Defesa Nacional).”
Deportação iminente
Por outro lado, o primeiro-ministro revelou que, por esta altura, os quatro cidadãos portugueses que estão detidos em Israel e que seguiam a bordo da flotilha humanitária estão em contacto com a embaixadora portuguesa em Israel para tratar dos procedimentos legais que permitam a viagem em breve para Portugal.
“A última informação de que disponho é de que a nossa embaixadora em Telavive estará neste momento a contactá-los diretamente com vista a agilizar precisamente esse procedimento”, revelou aos jornalistas.
O primeiro-ministro não consegue, no entanto, precisar quando poderá acontecer esse regresso dos quatro portugueses, onde se inclui a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua. Tendo em conta que “mais de 400 pessoas” estarão na mesma situação, Montenegro pede “alguma compreensão para um certo atraso” ou “velocidade não tão elevada como gostaríamos”.
“A minha perspetiva é que, muito rapidamente, esse assunto possa ser ultrapassado e que haja condições para haver um regresso tranquilo”, espera. No entretanto, e segundo as mais recentes informações, os portugueses detidos pelas autoridades israelitas já terão aceitado a deportação imediata.
Luís Montenegro foi ainda questionado sobre as declarações do ministro da defesa Nuno Melo, que condenou a participação dos portugueses na flotilha humanitária e acusou Mariana Mortágua de estar a apoiar o Hamas, uma organização terrorista. Recusou comentar, garantindo que não conhece “essas declarações”. “Nem vou comentar aquilo que dizem os membros do governo”.