Ministro de extrema-direita exige manter ativistas humanitários presos e lança insultos nas redes sociais
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, figura destacada da extrema-direita e colono nos territórios ocupados, instou esta sexta-feira o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a não deportar os mais de 470 ativistas detidos a bordo da Flotilha Global Sumud. Em vez disso, apelou a que sejam mantidos presos durante vários meses, sugerindo até que permaneçam junto da “ala terrorista” numa prisão de alta segurança.
“Devem ficar aqui numa prisão israelita durante alguns meses para se habituarem ao cheiro da ala terrorista”, escreveu Ben Gvir na rede social X (antigo Twitter), numa publicação amplamente criticada por organizações de direitos humanos e sectores da oposição israelita.
A Marinha israelita intercetou a flotilha entre a noite de quarta-feira e a manhã de quinta-feira, impedindo o seu avanço rumo à Faixa de Gaza. A missão, composta por 42 embarcações de diversos países, transportava ajuda humanitária – alimentos, medicamentos e bens de primeira necessidade – e pretendia romper simbolicamente o cerco imposto por Israel ao território palestiniano.
Todos os ativistas a bordo foram detidos e transferidos para a prisão de alta segurança de Saharonim, no deserto do Neguev. Entre os detidos encontram-se quatro cidadãos portugueses: Mariana Mortágua (líder do Bloco de Esquerda), a atriz Sofia Aparício, e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, declarou na quinta-feira esperar que os cidadãos nacionais regressem “sem nenhum incidente”, sublinhando que “a mensagem humanitária da flotilha foi transmitida ao mundo”.
Ben Gvir agride verbalmente ativistas e insinuações sem provas
Na noite de quinta-feira, Ben Gvir visitou o porto israelita de Ashdod, onde os navios foram levados após a interceção, e dirigiu insultos aos ativistas, chamando-lhes “terroristas”. Alegou ainda que os militares teriam encontrado armas a bordo das embarcações, embora não tenha apresentado qualquer prova para sustentar a acusação. As imagens da visita circularam amplamente nas redes sociais e foram transmitidas por vários meios de comunicação.
“O primeiro-ministro não pode continuar a deportá-los para os seus países, apenas para que regressem novamente numa próxima missão”, escreveu também Ben Gvir, defendendo uma estratégia de intimidação e punição prolongada.
Juntamente com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, Ben Gvir é uma das vozes mais radicais do atual governo israelita, liderado por Benjamin Netanyahu, tendo-se destacado pela defesa intransigente da continuação da guerra na Faixa de Gaza e da total ocupação do território palestiniano.
Crise humanitária sem precedentes em Gaza
A intervenção contra a flotilha humanitária ocorre num contexto de agravamento da situação em Gaza, onde a guerra desencadeada por Israel em outubro de 2023 já causou mais de 66.000 mortos e 169.000 feridos, segundo os últimos números das autoridades locais, considerados fiáveis pelas Nações Unidas. A maioria das vítimas são civis, incluindo milhares de crianças.
Além dos mortos diretamente provocados pelos bombardeamentos, milhares de pessoas morreram soterradas, por doenças, infeções e, sobretudo, por fome. O bloqueio à ajuda humanitária, imposto durante mais de dois meses, resultou numa das mais graves crises alimentares já registadas pela ONU. A organização declarou oficialmente o estado de fome na cidade de Gaza e arredores a 22 de agosto de 2025.
A Comissão de Inquérito da ONU acusou Israel de genocídio e de usar deliberadamente a fome como arma de guerra, numa denúncia que levou vários países, incluindo a África do Sul, a mover ações junto do Tribunal Internacional de Justiça.
A missão da flotilha: romper o silêncio
A Flotilha Global Sumud tinha como principal objetivo quebrar o silêncio internacional e abrir simbolicamente um corredor humanitário para Gaza. Os organizadores da missão reiteraram que todos os ativistas a bordo eram civis desarmados e que a operação era inteiramente pacífica, com o apoio de diversas organizações de direitos humanos internacionais.
A resposta do governo israelita, especialmente através das declarações de Ben Gvir, gerou reações de indignação em várias capitais europeias. Organizações internacionais já pediram a libertação imediata dos ativistas e denunciaram a criminalização de ações de solidariedade humanitária.