Um Maçom foi sujeito a suspensão provisória após divulgar os nomes e fotografias de duas mulheres que aguardavam iniciação no Grande Oriente Lusitano (GOL). A suspensão foi decretada pelo grão-mestre em 3 de Outubro de 2025. Tal acto viola regras internas e intensifica a tensão já existente em torno da admissão feminina.
Divulgação que despertou polémica
Segundo o decreto assinado por Fernando Cabecinha, o Maçom Luís Maia terá partilhado, a 26 de Setembro, num grupo de WhatsApp intitulado “No Feminino”, extractos contendo dados pessoais e fotografias das duas candidatas. O acto ocorreu antes da afixação oficial dos nomes nos Paços Perdidos do Palácio Maçónico, no Bairro Alto, em Lisboa — fase obrigatória, segundo os regulamentos internos.
O documento refere que tal conduta representa uma «violação do segredo maçónico» e justifica que a suspensão provisória afecte o obreiro Maia, da Loja Miosótis Negra n.º 584, de Lousada. A medida foi comunicada às 103 lojas integrantes da obediência.
O grão-mestre recorda no decreto que todos os maçons têm o dever de «guardar fielmente o sigilo maçónico», bem como cumprir os regulamentos da Ordem. A publicação da identidade sem autorização contrariou expressamente essas obrigações.
Contexto da entrada feminina no GOL
A admissão de mulheres no GOL foi aprovada pelo parlamento maçónico, a Grande Dieta, em 31 de Maio de 2025, com mais de dois terços dos votos a favor. A reforma permite que as lojas passem a ser masculinas, femininas ou mistas. Entretanto, a aplicação prática depende da aprovação de regulamentos específicos, e o processo tem gerado resistência interna.
Fontes maçónicas relatam que cerca de quarenta maçons de uma loja no Norte — a União Portucalense, de Vila Nova de Gaia — entregaram já os pedidos de saída do GOL, por discordarem da mudança. Ao mesmo tempo, várias outras lojas deliberam sobre se mantêm ou abandonam a obediência.
O decreto do grão-mestre sobre mulheres permitiu que lojas manifestem interesse em transformar-se em unidades mistas mediante proposta formal assinada por pelo menos sete membros e aprovação por maioria absoluta.
Reacção e implicações
A suspensão visa reforçar que o processo de iniciação feminina deve obedecer ao regulamento interno sem interferências prematuras. O incidente veio pôr em evidência a fragilidade da coesão interna da obediência.
Do ponto de vista institucional, a maçonaria portuguesa atravessa, com esta mudança, um momento de transição delicado. O GOL, fundado em 1802 e uma das obediências maçónicas mais influentes em Portugal, reconhece já obediências femininas e mistas, mas nunca autorizara iniciações em lojas próprias até ao voto de Maio de 2025.
Para as duas candidatas cujos nomes foram divulgados, o incidente interrompe temporariamente o processo de iniciação. A suspensão do Maçom que as expôs pretende restabelecer rigor e disciplina interna.
Nos próximos meses, a forma e o ritmo com que mulheres forem integradas nas lojas dependerão da aprovação de regulamentos complementares e da aceitação — ou recusa — das lojas locais. É neste pulso entre modernização e tradição que se joga o futuro da maçonaria no país.
