O primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, defendeu esta segunda-feira que o aumento previsto do orçamento das Forças Armadas é “indispensável”, numa altura em que o cenário internacional se torna cada vez mais instável e exigente do ponto de vista estratégico.
Na sua primeira mensagem às Forças Armadas desde que reassumiu o cargo de primeiro-ministro, Lecornu reafirmou o compromisso do governo francês com o reforço da Defesa Nacional. “A 13 de julho, o chefe de Estado anunciou um novo esforço para acelerar o nosso rearmamento. [Este aumento] é indispensável. Vou garantir que este compromisso é cumprido”, declarou.
Sébastien Lecornu ocupava a pasta da Defesa até setembro e foi reconduzido como primeiro-ministro na sexta-feira, após ter apresentado a demissão no início da semana passada. A sua nomeação ocorre num contexto político instável, com o país ainda a braços com as consequências da dissolução do parlamento decidida por Emmanuel Macron em 2024, após uma derrota significativa do seu partido nas eleições europeias.
O novo aumento do orçamento da Defesa representa um acréscimo adicional de 3,5 mil milhões de euros em 2026, que se somam aos 3,2 mil milhões de euros já previstos na Lei de Programação Militar. Este esforço eleva o orçamento das Forças Armadas francesas para 57,2 mil milhões de euros, o que representa uma subida de 13% em relação aos 50,5 mil milhões de euros previstos para 2025.
A decisão de reforçar o investimento na área militar surge num momento de forte pressão orçamental, com a dívida pública francesa a atingir os 3,4 biliões de euros – o equivalente a 115,6% do Produto Interno Bruto. A estagnação económica e a relutância dos investidores colocam desafios adicionais à execução orçamental.
Apesar das dificuldades, o governo francês mantém o objetivo de modernizar e reforçar as capacidades militares. Na mesma mensagem, Lecornu apelou à consolidação de “um novo modelo de exército: híbrido, ativo e de reserva, com competências melhoradas e resiliência reforçada”, sublinhando ainda a importância do “envolvimento operacional com aliados e parceiros para a segurança coletiva da Europa”.
Este posicionamento acompanha os compromissos assumidos no seio da NATO, onde os 32 Estados-membros acordaram, em junho, aumentar progressivamente os seus investimentos na Defesa até atingir os 5% do PIB até 2035. A decisão foi motivada pela continuação da guerra na Ucrânia e pelas crescentes ameaças híbridas por parte da Federação Russa.
A França, enquanto segunda maior economia da Zona Euro, procura assim reafirmar o seu papel como potência militar europeia, num contexto de reconfiguração estratégica global e crescente instabilidade geopolítica.