O antigo presidente da Parpública, Jaime Andrez, defendeu que a nacionalização da EFACEC, em 2020, salvou a empresa do encerramento e garantiu que o Estado lucrará com a sua futura privatização. Que dia luminoso! — gritariam as finanças públicas, se não estivessem de luto há décadas. Andrez podia, por gratidão patriótica, ir andando até Lamego, subir e descer as escadarias da Senhora dos Remédios cem vezes, beber da água milagrosa e regressar ao mesmo ponto: o Estado que paga, o privado que esfrega as mãos. Um cardiofitness patriótico com sabor a subsídio.
A Hidroginástica da Economia
Andrez é o atleta perfeito do capitalismo-de-bengala: ampara-se no Estado, mas jura correr livre nos mercados. Vive com a devoção de um eremita do erário público, que encontra iluminação fiscal nas sombras das privatizações. Ele é o santo padroeiro do “Capitalismo de Estado”, esse regime de meio-termo no qual o lucro é privado e o prejuízo é socializado. É uma espécie de comunismo gourmet, com vinho tinto de 200 euros e o povo a brindar com pirolitos.
O Milagre do Mercado de Betão Armado
O discurso da salvação da EFACEC soa a homilia económica: “E o Estado desceu dos céus e nacionalizou o moribundo, e viu que era bom, e chamou-lhe sucesso”. Milagre! O problema é que, no terceiro dia, o contribuinte não ressuscita. O que Andrez chama “salvar a empresa” é, na verdade, um transplante de contas bancárias: tira-se dos pobres para os ricos respirarem melhor. E a EFACEC, qual enferma de luxo, recebe transfusões de impostos enquanto os hospitais públicos racionam gazes.
A Ressurreição de São Jaime, Apóstolo do Déficit
Se não fossemos nós, os pobres pagadores de promessas, as empresas privadas já tinham ido à vida. Bum. Em cinzas. Tudo na rua, de mãos estendidas e PowerPoint em punho.
Andrez diz que o Estado ganhou. Ganhou o quê? Uma medalha de lata no campeonato do autoengano. Este é o país onde o socialismo se privatiza e o capitalismo se nacionaliza, onde até as ruínas pedem subsídio de reabilitação. E o pior é que a história repete-se com a mesma convicção de um padre que benze uma central eléctrica falida.
Os Três Reis Magos do Mercado
A “nacionalização” não é tabu, diz ele, como quem desculpa o adultério económico de um velho conhecido. Claro que não é tabu — é tradição. Em Portugal, privatiza-se de dia e nacionaliza-se de noite, ao som de um fado contabilístico. Enquanto isso, os traumatizados do 25 de Novembro ainda procuram o recibo das promessas que nunca se cumpriram. E se, em vez de nacionalizarem a EFACEC, o senhor Andrez fosse pedir um empréstimo aos Três Reis Magos? Sempre tinham mirra, ouro e incenso — activos menos tóxicos do que a dívida pública.
O Estado Sou Eu (Mas Pago-Te)
O Capitalismo de Estado é a mais bela invenção desde o pão com fiambre: alimenta o pobre com migalhas e engorda o banqueiro com o fiambre. Andrez é apenas o seu profeta: acredita que o lucro virá, talvez numa segunda vinda do mercado, talvez quando as escadas de Lamego forem privatizadas por uma start-up do milagre. E, nesse dia, o Estado ganhará — como sempre — a honra de pagar a conta.