Faleceu a 21 de Outubro de 2025, vítima de doença prolongada, Francisco Pinto Balsemão, uma das figuras mais marcantes da história política e jornalística de Portugal. Tinha 88 anos e deixa um legado que atravessa as esferas da política, da comunicação e do empreendedorismo. Fundador do Partido Popular Democrata, que viria a dar origem ao Partido Social Democrata (PSD), e um dos principais responsáveis pela criação de grandes marcos da comunicação social, como o semanário Expresso e a SIC, Pinto Balsemão é recordado não apenas como um homem de acção, mas também como uma figura de convicções firmes e visão estratégica.
Uma vida marcada pela inovação e pela política
Francisco Pinto Balsemão nasceu a 12 de Outubro de 1937, em Lisboa, numa família de classe média alta, com uma forte ligação ao meio intelectual e político. O seu pai, José Pinto Balsemão, era um influente empresário, enquanto a sua mãe, Maria de Jesus Pinto Balsemão, era uma mulher dedicada à vida familiar. Desde cedo, Francisco demonstrou uma grande aptidão para os estudos e, sobretudo, para a liderança. Após completar o liceu, estudou Direito na Universidade de Lisboa, onde se destacou como um jovem ambicioso e com uma visão clara sobre o futuro de Portugal.
Na década de 1960, com a ditadura do Estado Novo ainda em vigor, Pinto Balsemão começou a trilhar o caminho da oposição ao regime. A sua juventude foi marcada por uma crescente inquietação política, e foi neste contexto que se envolveu no movimento democrático que visava a queda do regime de Salazar.
Nos anos seguintes, especialmente após a Revolução dos Cravos, em 1974, emergiu como uma figura central da política portuguesa, com uma visão liberal e de mercado que o levou a fundar, em 1975, o Partido Popular Democrata (PPD), que, após fusões e adaptações, daria origem ao Partido Social Democrata (PSD) — um dos maiores partidos portugueses. Este movimento foi essencial para consolidar a democracia em Portugal após o 25 de Abril.
Durante os anos 80, Pinto Balsemão ocupou diversos cargos de relevância política. Foi nomeado Primeiro-Ministro de Portugal entre 1981 e 1983, período em que se destacou pela sua postura pragmática e pela orientação económica liberal, procurando estabilizar a economia portuguesa e modernizar o país após os turbulentos primeiros anos pós-revolucionários.
Embora a sua passagem pelo Governo tenha sido breve, a sua influência na política e na sociedade portuguesa foi indiscutível. A sua capacidade de articulação política e de mediação foi um dos seus maiores trunfos, algo que se reflectiu em diversas negociações que marcaram a transição democrática do país.
O impacto na comunicação social
Contudo, a sua maior notoriedade viria do campo da comunicação social. Francisco Pinto Balsemão foi um pioneiro no sector, sendo um dos principais responsáveis pela criação do Expresso, em 1973, um semanário que se tornou um dos pilares do jornalismo português e desempenhou um papel decisivo na defesa da liberdade de expressão e na transição para a democracia.
O Expresso não só ajudou a consolidar a democracia, como também impulsionou o jornalismo de investigação e a crítica social, áreas em que Balsemão sempre acreditou profundamente.
Na década de 1990, protagonizou uma nova revolução no panorama mediático português ao fundar a Sociedade Independente de Comunicação (SIC), a primeira estação de televisão privada do país, que se estreou a seis de Outubro de 1992. A SIC transformou-se rapidamente numa das mais influentes redes televisivas portuguesas, alterando definitivamente o cenário audiovisual, até então dominado pela televisão pública estatal.
Com uma programação diversificada e inovadora, a SIC tornou-se sinónimo de modernidade e profissionalismo, atraindo tanto audiências como publicidade e abrindo portas a novos talentos.
A criação da SIC demonstrou a visão de Balsemão quanto ao papel essencial da comunicação numa sociedade democrática. Sempre defendeu que uma imprensa livre e independente era fundamental para a cidadania e para a fiscalização do poder. Por isso, incentivou o debate aberto e crítico e protegeu a pluralidade de vozes no espaço mediático português.
Legado político e familiar
Francisco Pinto Balsemão foi também um homem de família, casado com Ana Pinto Balsemão, com quem teve três filhos. A vida familiar, longe dos holofotes, sempre foi uma prioridade. Para os seus filhos e netos, foi um modelo de dedicação, ética e respeito pelos outros — valores que cultivou tanto no plano pessoal como no profissional.
O seu legado transcende as realizações concretas na política e na comunicação. Acreditou numa democracia sólida, assente na liberdade de expressão e no respeito pelos direitos fundamentais. Como fundador do PSD, desempenhou um papel crucial na estabilização e crescimento do partido, que moldou a trajectória política portuguesa nas últimas quatro décadas.
Reconhecimento e saudade
O impacto de Francisco Pinto Balsemão é imensurável. A sua passagem pelo Governo, a criação de um dos maiores grupos de comunicação de Portugal e a sua liderança no campo político são apenas algumas das facetas de uma vida repleta de realizações.
Não somente ajudou a definir o futuro de Portugal como Estado democrático, mas deixou também uma marca indelével na história do jornalismo e da televisão.
A sua morte deixa um vazio na política e na comunicação social portuguesas, mas o seu legado — através do Expresso, da SIC e da sua acção em prol da liberdade e da democracia — continuará a inspirar gerações de jornalistas, políticos e cidadãos.
Francisco Pinto Balsemão será lembrado como um dos maiores protagonistas da história moderna de Portugal, cujos feitos continuam a ressoar no país que ajudou a democratizar.
