Em Castelo Branco, há uma arte que nunca morre: a do malabarismo político. É o nosso verdadeiro património imaterial, mais resistente do que o granito das muralhas e mais lucrativo do que o queijo (não chesee) da Beira Baixa.
As eleições de 12 de outubro já passaram, o povo votou, o PS ganhou (três vereadores), o “Sempre por Todos” do PSD/CDS-PP também (três vereadores), e a Iniciativa Liberal lá conseguiu um. A aritmética é simples, mas a matemática do poder é outra: aqui, quem tem menos cadeiras tenta mandar mais, e quem ganhou finge que já mandou o suficiente para não se cansar.
Enquanto isso, o novo executivo do PS, com Leopoldo Rodrigues à frente, ainda não tomou posse. Talvez esperem que o Espírito Santo desça a 3 de novembro e resolva quem fica com o trono e quem segura a toalha. A tomada de posse promete ser uma mistura de missa de domingo e mercado de promessas: sorrisos plásticos, apertos de mão suados e a habitual procissão de vaidades.
Nos bastidores, a dança das cadeiras já começou. Há quem jure fidelidade política como quem promete dieta depois do Natal. Há quem se disfarce de moralista só para justificar o próximo cambalacho. E há quem ache que manipular bastidores é um talento e não um vício.
Leopoldo Rodrigues, esse velho conhecido do poder local, regressa com a humildade de um pavão num espelho. Fala em diálogo, mas a palavra “ouvir” ainda lhe causa comichão. No último mandato mostrou uma capacidade rara: governar sem governar, prometer sem cumprir e aparecer sem fazer falta. Foi um exercício notável de invisibilidade com microfone.
Agora promete milagres. Mas milagres em política são como unicórnios: toda a gente fala neles, ninguém os viu. Se não conseguiu fazer obra com maioria (com o voto do Belém do PSD), imagine-se o que fará com um executivo dividido — talvez uma reunião extraordinária para decidir o tamanho das cadeiras.
Com a entrada da Iniciativa Liberal na Assembleia Municipal, há quem espere mais debate. Ingenuidade bonita. O debate político albicastrense costuma ser uma sucessão de monólogos: cada um fala para o espelho e aplaude-se no fim. Se a presidência da Assembleia escapar ao PS, Rodrigues vai ter de aprender a lidar com o contraditório — essa criatura exótica que os políticos locais tratam como uma gripe.
Enquanto os jogos de poder se multiplicam, Castelo Branco continua igual: ruas remendadas, jovens a fugir, e o mesmo discurso de sempre — “estamos a trabalhar para o futuro”. O problema é que o futuro já se cansou de esperar.
O eleitor, esse herói anónimo que ainda acredita em democracia local, observa de longe este teatro municipal. Sabe que no fim a história repete-se: os protagonistas mudam de gravata, mas a peça é a mesma. Chamam-lhe “governar”, mas parece mais um ensaio permanente para uma peça que nunca estreia.
Epílogo do cronista desconfiado:
Castelo Branco não precisa de magos nem de messias; precisa de gente com vergonha e vontade. Mas isso, infelizmente, não cabe no orçamento municipal. E como já é tradição, o povo volta a aplaudir — não porque goste do espetáculo, mas porque sabe que o bilhete já está pago.








