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A Ameaça do Computador, AI, que é esperto!

MOTE:

Ai, Ai. Ai, Ai,

Eu tenho medo daquilo

Pensa mais do que o Zé

Faz bonecos em pé!

Ai, Ai. Ai, Ai

Aquilo é mais esperto que eu

Vou ficar sem meu emprego

E tu vais ficar sem o teu

 

Anda aí gente doente devido à “Inteligência Artificial” (IA). Nem dormem, ou dormem mal, em pânico com o que lhes pode acontecer. O mais certo é pensarem que a IA vem, como dantes vinham os imigrantes, roubar as nossas mulheres e violar os nossos empregos.

É pena.

A IA ainda nem sequer é Inteligência, nem Artificial. O que temos hoje é algo muito diferente. A saber: A IA funciona, essencialmente, através do processamento de grandes volumes de dados (informações que já existem na Internet) e da utilização de algoritmos complexos para identificar padrões, aprender com a experiência e, consequentemente, executar tarefas ou fazer previsões. Na verdade, cruza duas coisas que já existiam há muito: o Machine Learning, sendo a máquina a acumular a informação que já existe e, depois, o Deep Learning, que utiliza redes com muitas camadas para analisar os dados em níveis hierárquicos e abstractos, o que é crucial para tarefas avançadas como o processamento de linguagem natural: aquela que faz a IA parecer uma pessoa.

IA da cobra

Isto é, não há IA coisa nenhuma. Há-de-haver, um dia destes, quando (lá vai um conjunto de palavrões) conseguirmos introduzir o “imponderável” e acabar com a linguagem binária (os bits e bytes) e lá enfiar a “dúvida”. E isto terá que esperar pelos processadores quânticos. Ora, os cientistas têm uma previsão para que este zingarelho chegue lá a casa. A medida precisa, segundo a IBM e a Microsoft, é: «muito distante». Isto é, coisa para os nossos netos.

Os nossos netos, coitados, lá estarão entretidos com as dúvidas existenciais dos seus robôs domésticos, enquanto nós, cá em baixo, continuamos a benzer-nos sempre que o micro-ondas apita de forma inesperada. O pânico actual não passa de uma histeria colectiva, uma espécie de dança-de-são-Vito digital perante o que é, na sua essência, um papagaio eléctrico com um vocabulário superior ao de um deputado médio. A grande ameaça ao emprego não é uma máquina que pense, mas uma máquina que repete o que o director-geral disse na última reunião, só que de forma mais articulada e sem pedir aumentos.

A Consciência da Torradeira e o Filósofo de Silicon Valley

O que me espanta é o ‘pavor existencial’ que esta calculadora glorificada provoca nos escribas e nos artistas, gente que devia saber distinguir a criação da compilação. Atribuímos a esta geringonça uma consciência que ela está tão longe de ter como a minha torradeira de se candidatar à Academia Francesa. O problema é que os novos sacerdotes de Silicon Valley, com as suas camisolas de gola alta e a sua ‘disrupção’ ungida, vendem-nos este eco electrónico como se fosse a segunda vinda de Prometeu, e nós, papalvos, acendemos as velas.

A verdadeira inteligência humana, essa jóia rara, não se mede pela capacidade de acertar nos factos, mas pela sublime aptidão para o erro consciente, a malícia gratuita e a dúvida que corrói. Como dizia o grande filósofo olvidado Patrício Lamego, no seu seminal ensaio «O Meu Aspirador Odeia-me?», “A máquina só será humana quando mentir por despeito e pedir desculpa sem sentir nada”. Enquanto a IA não souber o que é uma dor-de-cotovelo ou a necessidade premente de sabotar o colega do lado por pura inveja, estamos perfeitamente seguros nas nossas medíocres e gloriosas vidas.

O Apocalipse Adiado para a Próxima Geração de Baterias

O perigo real não é a máquina tornar-se consciente; o perigo é a direcção de recursos humanos tornar-se ainda mais inconsciente, usando o ‘algoritmo’ como desculpa para despedimentos em massa. Estamos a criar a mais sofisticada ferramenta de todos os tempos para justificar a estupidez humana, uma espécie de ‘desculpabilizador’ universal que nos permite tomar as piores decisões com a bênção da matemática. É a automatização da incompetência, o ‘simplex’ da crueldade, e fazemo-lo com um sorriso de quem acaba de descobrir o tele-trabalho.

Relaxemos, pois, a nossa tão humana ansiedade, que o Apocalipse cibernético ainda vem longe, provavelmente atrasado na alfândega devido a uma qualquer greve dos processadores quânticos. Por agora, o nosso maior risco é a IA nos sugerir uma receita de bacalhau com ananás, baseada em dados que ‘processou’ da Internet, e nós, na nossa infinita sabedoria, acharmos que é uma excelente ideia. Continuemos tranquilos a cavar a nossa própria sepultura intelectual, que a pá mecânica ainda precisa de actualizações de ‘software’. E os inteligentes naturais já perceberam que a IA é como o fogo e a roda: há que dominá-los, não fugir a sete-pés da coisa nova.

Amén, diskette.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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