Terça-feira,Outubro 14, 2025
18.8 C
Castelo Branco

- Publicidade -

A Arte de Não Ser, com Seguro

Os tempos são de uma serenidade tão estonteante que até as estátuas, de granito e calcário, se sentam à beira-mar, na costa atlântica, a suspirar de tédio; este marasmo político nacional, em que a inércia faz as vezes de estratégia, tem-me provocado uma espécie de urticária intelectual que nem os banhos de água salgada, no Banhos de S. Gregório de Mello e Castro (autor inexistente e obra inexistente), conseguem apaziguar.

Isto é de tal maneira afeito ao silêncio ensurdecedor que nos rodeia, que até o vento parece suspirar de enfado, preferindo estagnar, a ter de carregar as nuvens para o próximo horizonte; o Partido Socialista, esse velho do Restelo, tem conseguido, com uma mestria só invejável aos artistas de rua que dobram colheres com a força da mente, um feito que a História, na sua infinita ironia, registará como o “Grande Fiasco da Esperança Congelada”.

Porque, caríssimos e amáveis leitores, a questão que me assalta, qual bandido de capa e punhal, em cada manhã, é de uma simplicidade que roça o sublime, no reino da estupidez: De que raio está o PS à espera para apoiar António José Seguro?

O “Segurismo” como Ciência Exacta

Será que o partido aguarda uma operação para mudança de sexo do ilustre camarada, para que o seu apoio seja, finalmente, considerado progressista, a ponto de ser socialmente aceite por essa massa de gente que vive na moda do “politicamente correcto” e, por isso, só existe no Instagram?

Ainda se calhar, a esperança, essa última das deusas a abandonar a nau, reside no facto de o PS estar à espera que Seguro pinte o cabelo de azul, numa tentativa desesperada, fútil e tardia, de parecer um “jovem turco”, desses que não vivem sem um “selfie” e que, para se verem, precisam de um espelho com “flash” de estúdio de televisão, porque a realidade, como se sabe, é uma coisa muito aborrecida;

Ou, quem sabe, o calendário do partido marca, com uma cruz a giz na parede, a data mágica em que António Filipe desista, e, por um milagre desses, tipo “Deus Ex Machina”, caia dos céus uma placa de mármore, com a inscrição: “Apoiem Seguro, Seus Ingratos!”, assinada por um grupo anónimo de intelectuais de Coimbra que, de tanto estudar, já nem conseguem amarrar os sapatos, quanto mais votar.

A Tensão na Testa de Rodrigues dos Santos

O status quo é de tal maneira petrificado que nos leva a crer que o PS aguarda, com a paciência que só uma múmia egípcia possui, que Salgado Zenha ressuscite, mas não com o intuito de dar uma nova vida ao partido, mas, sim, apenas e só, para que possa dar uma palmada nas costas a Seguro e dizer: “Vamos lá, rapaz, isto aqui é tudo uma comédia, mas a tua cara-pálida é perfeita para a próxima tragédia!”.

Mas a grande ansiedade que nos devora, qual traça esfomeada num casaco de lã, está focada num evento de proporções cósmicas e, ao mesmo tempo, de uma profunda trivialidade “à portuguesa”, a saber: que a testa de José Rodrigues dos Santos deixe de escrever livros, e, para tal, que a sua testa-prodígio entre em greve, em protesto contra a escassez de espaço para tanto “enredo” e “intriga internacional”, que, no fundo, são apenas um rol de banalidades sem ponta por onde se lhe pegue.

Será que o apoio ao ex-líder está dependente de José Sócrates, a partir da cela, se candidatar a Cardeal do Vaticano, para que o PS possa, numa jogada de mestre, alegar que a Igreja Católica apoia a Esquerda, e que, finalmente, a “Geringonça” se transformará numa “Santíssima Trindade”, a bem da Nação, que, como se sabe, está sempre “a bem” de qualquer coisa, mas nunca de si própria?

A Grande Espera da “Segurice”

A não-decisão do PS, qual “estudo da entropia”, está a fazer-me pensar que o partido espera que o Rio Tejo seque e o Castelo de S. Jorge desmorone, em simultâneo, mas apenas para poderem dizer, com aquela voz monocórdica e sem emoção, que é a marca de água desta gente: “Ah, caramba, ficámos sem tempo, e o Seguro, coitado, estava quase lá!”.

E a grande questão que me leva a deambular, qual “flâneur” sem destino, pelas ruas da Baixa, é se, porventura, o apoio a Seguro só será dado quando a Seleção Nacional de Futebol ganhar o Campeonato Mundial de Xadrez e, por arrasto, o próximo festival de Eurovisão for realizado em S. Bento, onde o Primeiro-Ministro terá de cantar, em “playback”, uma canção de amor e esperança, escrita por um fantasma de um poeta romântico, que morreu de desgosto, por a realidade ser mais triste que os seus poemas.

Porque, meus amigos, se há coisa que aprendi nestes 34 anos a deambular entre a tinta da imprensa e o “pixel” do “online”, é que a política nacional é uma “Ópera-Bufa”, mas sem a parte da música, e o PS, a julgar pela sua inércia, está à espera, de facto, que os marcianos aterrem na Praça do Comércio e nomeiem António José Seguro como Embaixador Plenipotenciário do Planeta Terra, e só, nessa altura, é que o PS dirá: “Ora, aí está, a nossa aposta era segura, e nós já sabíamos disto há anos!”

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:
Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor