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A República dos Idiotas Activos

Começo por situar o leitor: estamos em Portugal, Outubro de 25, o mês em que o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM, ou 112, para os amigos íntimos e para os inimigos mortais) revelou ao mundo a sua mais recente especialidade — a arte performativa de perder contas, relatórios e dignidade, tudo de uma só vez.

A loucura das contas é tão delirante que nem o próprio INEM sabe o que lá se passa, um acto de ilusionismo financeiro digno do prestidigitador Prof. Lápis Sem Borracha, autor do inesquecível manual «Equilíbrios em Cordas Podres». A incompetência atravessa governos, partidos, nomeados e nomeantes como um vírus de “balda total” com o dinheiro público e o desprezo absoluto pelo cidadão — mas calma, caro leitor, nada para espantar, como já é hábito.

O porteiro, o Multibanco e o óleo Castróil

Responsabilidade de existirem 75 mil documentos em falta? Do porteiro do contabilista, esse “Kafka das Chaves” que, ao que parece, tranca dossiês no armário da realidade paralela. Perigo de duplo financiamento? Culpa do terminal de Multibanco da esquina do Ministério da Saúde, essa entidade autónoma e maligna com mais poder que um ministro em horário nobre. Balda total nas viaturas, sem se saber, ao certo, quantas andam e não andam? Culpa do óleo Castróil da oficina Irmãos&Irmãos, ali ao Restelo — uma mistura que, dizem, transforma ambulâncias em unicórnios invisíveis. Tudo sem culpa, não é? Mas isso já a gente sabe: a culpa, como o oxigénio nos balões, evapora-se.

De Missão (com auréola patriótica)

Demissão? Em português a palavra não existe. Lê-se “de missão”, ou seja, os incompetentes estão lá “de missão” patriótica, como se fossem monges do desperdício

público, recitando mantras de Excel com células vazias. Dizia-me há tempos um amigo que há quatro tipos de pessoas: os idiotas passivos, os idiotas activos, os inteligentes passivos e os inteligentes activos. E, com razão, explicava: «Os piores são os idiotas activos. São imbecis, ignorantes, só fazem asneiras e têm sempre lábia e razão. Convencem os outros todos, menos os inteligentes activos — que se fartam em 15 dias e vão trabalhar para outro lado». Em cada organismo público, a “elite” é uma sinfonia desafinada de idiotas activos com clarinetes de desculpas.

S.O.S. – Sirenes Oficiais Sem sentido

Portugal, neste Outubro de 25, é a República dos Idiotas Activos. Como cantava Sérgio Godinho, «Triste, é muito triste / é demasiado triste / quando de tudo o que existe / tudo parece / do triste vermelho S.O.S.». Mais vale estar só, grito num sufoco, socorro, corri p’ro teu lábio louco, lábios murmurando “enfim S.O.S.”. Parece que só se ouve essa palavra, vem de todos os lugares, vem dos mares, vem dos lares, dos altares, dos bazares, vêm alarmes similares, parece que só se ouve essa sirene fala perene dentro da nossa voz. E enquanto o povo repete o refrão, os relatórios continuam a evaporar-se, como notas de euro num incêndio controlado.

O inevitável salto para o telhado

Assim vamos nós, rumo ao telhado e ao inevitável suicídio colectivo, com o entusiasmo burocrático de quem assina recibos verdes de oxigénio. Não há ambulância que nos valha quando a sirene maior é a do “Sistema” — essa criatura com tentáculos de arquivo morto e coração de Excel. E se alguém perguntar “quem é o culpado?”, responderemos com a mais portuguesa das certezas: ninguém. No fim, é até reconfortante perceber que não estamos perdidos, apenas estacionados na berma da História, sem luzes de emergência, mas com uma banda sonora impecável de sirenes. Afinal, quem precisa de soluções quando pode ter uma orquestra de incompetência em dó maior?

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Editor Executivo. Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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