No seio da história da Igreja Católica, destaca-se a figura de Papa João XXI, nascido Pedro Julião (também conhecido como Pedro Hispano) em Lisboa, em 1215, e que ascendeu ao papado num período conturbado da Europa medieval. Foi eleito em Setembro de 1276, sucedendo a Adriano V, e o seu pontificado, embora breve – durando apenas oito meses –, marcou a memória da Igreja, sobretudo pelo contraste entre a sua erudição e a tragédia que culminou na sua morte.
A eleição de Pedro Julião ocorreu num conclave realizado em Viterbo, onde o ambiente político e religioso se revelava tenso e violento. Conhecido pelos seus estudos em medicina, filosofia e teologia, o erudito português já tinha adquirido reputação como professor universitário e médico, tendo leccionado e escrito tratados que perduraram durante séculos. O seu nome, que passou por várias designações ao longo da vida – Pedro Julião, depois Pedro Hispano e, por fim, João XXI – reflecte o percurso multifacetado de um homem que conciliava a prática médica com os mais altos escalões da hierarquia eclesiástica.
Durante o seu curto papado, João XXI procurou dar continuidade aos objectivos do Concílio Ecuménico de Lyon, promovendo a unidade entre a Igreja do Ocidente e a oriental. No entanto, o seu envolvimento pessoal com os estudos e a medicina, aliado a uma delegação crescente das funções administrativas para colaboradores próximos, acabou por evidenciar um pontificado mais introspectivo que operativo. Assim, o seu legado pontua o dilema entre o saber e a gestão, num contexto de crises e disputas pelo poder na Europa do século XIII.
A tragédia que encerrou o seu breve reinado ocorreu no Palácio Apostólico de Viterbo, onde, numa fatídica tarde de Maio de 1277, um desmoronamento parcial do edifício provocou ferimentos fatais ao Papa. Embora os detalhes exactos permaneçam rodeados de incerteza, a versão tradicional relata que o pontífice, sozinho em seu aposento, foi atingido por escombros, vindo a sucumbir aos ferimentos poucos dias depois. Este infortúnio, que encerrou de forma abrupta uma carreira marcada por brilhantismo intelectual e ascensão meteórica, transformou a sua morte num episódio emblemático de tragédia na História da Igreja.
Apesar das controvérsias e lacunas que ainda hoje cercam certos aspectos da sua biografia – desde a data exacta do seu nascimento até os detalhes precisos da queda – Papa João XXI permanece reconhecido como o único papa de origem portuguesa, símbolo de um período de intensas transformações e desafios na Idade Média. A sua figura, que alia a sensibilidade de um erudito à função suprema de liderança espiritual, inspira a reflexão sobre os limites do poder e da fragilidade humana, num contexto em que o conhecimento e a fé se entrelaçam de forma inseparável.
