Editorial
Por Fernando Jesus Pires
No dia 12 de Outubro de 2025, a Beira Baixa é chamada a exercer o seu direito soberano. A responsabilidade é colectiva, mas as consequências serão sempre pessoais. O voto que se deposita na urna carrega, este ano, mais do que uma escolha: carrega a medida do carácter, da responsabilidade e da coragem de um povo que, durante demasiado tempo, foi subestimado, ignorado ou instrumentalizado por interesses alheios ao bem comum.
Chegámos ao limite do tolerável. Persistir no erro deixará de ser ingenuidade para se tornar cumplicidade. A Beira Baixa não pode mais ser governada por figuras ocas, sem preparação, nem sentido de missão. O momento não aceita hesitações: é tempo de separar os que se dedicam aos cargos públicos com seriedade dos que apenas procuram o poder como fim em si mesmo. Quem falha sistematicamente a sua população não merece o benefício da dúvida — merece o juízo implacável das urnas e da História.
Uma Balança Desequilibrada
Em diversos concelhos da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa, a democracia tem sido desvirtuada por práticas que colidem frontalmente com o espírito republicano. Assistimos, ano após ano, a uma erosão da confiança institucional, alimentada por promessas não cumpridas, obras irrelevantes com grande aparato mediático, desresponsabilização crónica, e uma cultura de impunidade que se disfarça com sorrisos e slogans.
Nos concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova, em particular, a gestão autárquica falhou rotundamente. Não por falta de recursos ou de oportunidades, mas por ausência de visão, coragem política e competência técnica. Em Castelo Branco, a degradação urbana, a paralisia económica e o distanciamento entre o poder e os cidadãos atingiram níveis inaceitáveis. As periferias são tratadas como problema invisível. Os jovens fogem porque não há futuro palpável. Os investidores são desencorajados pela opacidade dos processos e pelo favoritismo descarado.
Idanha-a-Nova, com um património cultural que deveria ser um farol de inovação rural, tornou-se uma montra vazia. Os eventos e festivais, isolados de qualquer estratégia integrada, servem apenas para manter uma ilusão de dinamismo. Não existe política cultural: existe calendário. Não existe visão territorial: existe encenação.
O Outro Lado da Balança
Não se trata de condenar tudo nem todos. Nos concelhos de Proença-a-Nova, Oleiros, Vila de Rei, Sertã, Penamacor e Vila Velha de Ródão, os sinais são de progresso sustentável, assente em políticas coerentes, responsabilidade orçamental e uma proximidade real às populações. Há projectos com continuidade, acções com impacto visível, e uma vontade clara de contrariar o declínio. Mas nem mesmo nesses casos se pode baixar a guarda. A confiança não é eterna. A estabilidade, quando mal gerida, transforma-se em comodismo. E o mérito, quando não é renovado, transforma-se em passado.
O eleitorado não pode premiar a repetição inconsequente nem castigar a inovação com risco. O voto não deve ser fidelidade cega, mas julgamento informado.
O Compromisso do ORegiões
O jornal ORegiões reafirma, com firmeza, a sua posição editorial de independência, vigilância e responsabilidade democrática. Não somos neutros perante a incompetência. Não pactuamos com a mentira institucionalizada. Não servimos interesses obscuros nem projectos pessoais disfarçados de causas públicas.
Estaremos atentos a todos os actos administrativos. Exigiremos explicações públicas. Denunciaremos abusos. E exigiremos que os eleitos cumpram integralmente o mandato que lhes for confiado. Faremos jornalismo de escrutínio, com fundamento documental e legal, como é exigido num Estado de Direito.
Este texto é publicado com valor editorial e cívico. Está protegido juridicamente como expressão legítima de opinião fundamentada, no âmbito do artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa (Liberdade de expressão e informação), sendo ainda abrangido pela Lei de Imprensa em vigor. Qualquer tentativa de censura, intimidação ou retaliação será exposta publicamente e combatida nos meios legais e institucionais disponíveis.
A advertência é clara:
Quem se candidatar, assume responsabilidade.
Quem for eleito, está sujeito a escrutínio.
Quem falhar, será exposto.
Quem trair a confiança pública, enfrentará consequências políticas, sociais e jurídicas.
A justiça começa no boletim de voto, mas só se concretiza com cidadania activa. O tempo dos ilusionistas terminou. Esta é a última oportunidade para devolver dignidade à governação local da Beira Baixa. O povo está atento. A balança pesa. E esta eleição pode ser o seu ponto de equilíbrio ou de ruptura.
Fernando Jesus Pires
Diretor, ORegiões