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A Verdadeira Economia Circular de Castelo Branco

Em Castelo Branco, muito se tem falado de economia circular. O termo aparece em discursos, projetos e anúncios camarários, quase como palavra mágica que tudo promete e pouco concretiza. No entanto, quando se observa a realidade do concelho, percebe-se que a prática está longe da teoria. A economia circular de que tanto se fala ainda não ganhou expressão real nas políticas municipais.

Contudo, exemplos de sucesso existem — discretos, consistentes e verdadeiros. São empresas e estabelecimentos que há décadas fazem girar a economia local, muito antes de o conceito se ter tornado moda. Um desses casos emblemáticos é a Churrasqueira dos Três Globos, uma referência em Castelo Branco que há vários anos mantém um modelo de gestão exemplar e profundamente enraizado na comunidade.

Foto: oRegiões

Conheço bem a casa e os seus protagonistas. O projeto nasceu de uma sociedade entre dois amigos — o senhor Reis e o senhor Castanheira — e as respetivas esposas. Unidos pelo trabalho e pela visão de um comércio próximo das pessoas, construíram um negócio que se tornou parte da identidade local. Hoje, a gerência está nas mãos da nova geração: João Reis, filho, e Luís Corte-Real, genro do senhor Castanheira.

Ambos seguem um modelo de gestão equilibrado, alternando a presença semanal à frente do negócio, garantindo dinamismo e continuidade. A equipa, experiente e acolhedora, assegura o funcionamento diário com profissionalismo e simpatia. A casa enche-se ao almoço e ao jantar, acolhendo clientes habituais, famílias, trabalhadores e até turistas.

Foto: oRegiões

Numa segunda-feira recente, presenciei algo que resume bem o alcance deste estabelecimento: um grupo de turistas da Austrália, Nova Zelândia e Canadá almoçava ali, encantado com a comida e com a hospitalidade. O guia, um jovem espanhol de inglês perfeito, explicou-me que a Churrasqueira dos Três Globos é paragem obrigatória durante todo o ano, não apenas pela qualidade gastronómica, mas pela autenticidade da experiência.

Esse reconhecimento internacional não nasceu de campanhas publicitárias nem de apoios institucionais. Nasceu da genuinidade, do trabalho diário e da preservação de uma identidade regional feita de simplicidade, sabor e verdade.

O senhor Castanheira e a Dona Lurdes, ambos viúvos, continuam a fazer pelo menos uma refeição diária na casa que ajudaram a fundar. Não para supervisionar, mas para conviver. Mantêm o contacto com clientes de longa data, perpetuando o espírito familiar e a ligação humana que fizeram da Churrasqueira uma verdadeira instituição da cidade.

A Dona Lurdes, mãe dos meus amigos de juventude João Reis e Cristina, recorda muitas vezes as festas de aniversário em sua casa, os tempos do liceu e a amizade que se construiu entre famílias. Essas memórias pessoais cruzam-se com o percurso da própria cidade e mostram como um negócio pode ser também um ponto de encontro de gerações.

A Churrasqueira dos Três Globos é, assim, um exemplo concreto de economia circular — não a que se anuncia em documentos estratégicos, mas a que se vive todos os dias. O negócio gera emprego, dinamiza fornecedores locais, atrai visitantes e, acima de tudo, fortalece o tecido social de Castelo Branco.

Seria desejável que o executivo municipal olhasse com atenção para realidades como esta. O apoio e a valorização do pequeno comércio, da restauração tradicional e das empresas familiares são fundamentais para revitalizar o centro urbano e dar vida à cidade. A economia circular começa precisamente aqui: onde o trabalho é feito com dedicação, onde o lucro tem rosto e onde a comunidade é mais do que uma estatística.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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