Exilado nos Emirados Árabes Unidos, o rei emérito de Espanha, Juan Carlos, foi um dos membros de realezas internacionais que voaram até Lisboa para prestar uma última homenagem ao príncipe Aga Khan IV, que morreu na última terça-feira, 4 de fevereiro, aos 88 anos. O funeral foi realizado no Centro Ismaili de Lisboa na manhã deste sábado, 8 de fevereiro, num evento privado. Participaram também representantes portugueses, como D. Duarte, o duque de Bragança, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel, e o presidente da câmara de Lisboa Carlos Moedas. Entre os chefes de estado internacionais, destaca-se a presença do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
O Presidente da República lembrou este sábado o príncipe Karim al Hussaini, 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, como “um homem da paz”, e revelou que vai receber o seu sucessor, o príncipe Rahim, na segunda-feira, no Palácio de Belém.
“Como grande líder espiritual, não apenas religioso mas espiritual, foi um homem da paz, foi um homem da concórdia, foi um homem da capacidade de diálogo”, afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, referindo-se ao legado do príncipe Karim al Hussaini, que morreu na terça-feira, em Lisboa, aos 88 anos.
O chefe de Estado português falava aos jornalistas à entrada do Centro Ismaili, em Lisboa, onde decorre este sábado a cerimónia fúnebre do príncipe Karim al Hussaini (Aga Khan IV), 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, que seguiu a tradição Ismaili, com a leitura de versos do Corão e a apresentação de condolências. O corpo de Aga Khan IV segue agora para o Egito, onde será sepultado no mausoléu da família, na cidade de Aswan, numa cerimónia fúnebre privada este domingo.
Entre o legado do príncipe Aga Khan IV, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a decisão “histórica” para a comunidade Ismaili, do ramo xiita do Islão, de criar uma sede em Portugal, nomeadamente em Lisboa, lembrando que essa sede estava ultimamente na Suíça, mas tinha muito peso em países como o Reino Unido e o Canadá, além de uma presença fortíssima na Ásia e em África.
O Presidente da República realçou ainda o contributo do príncipe Aga Khan IV em Portugal como “pioneiro na introdução de robôs e no apoio ao Serviço Nacional de Saúde público na utilização de robôs para cirurgia”, assim como a ajuda em várias obras sociais.
“Na educação, na saúde, na solidariedade social, a comunidade ismaelita, por causa da influência do príncipe Aga Khan, teve nos últimos 10 anos, desde 2015/2016, um peso crescente na nossa sociedade, e nós isso nunca esqueceremos”, expôs Marcelo Rebelo de Sousa.
Referindo que privou “muitas vezes” com o príncipe Karim al Hussaini, o chefe de Estado disse que este líder religioso “sabia tudo sobre Portugal, tudo sobre a vida portuguesa e era um senhor, um homem de outra época, um homem que tinha conhecido figuras de outra época”.
O príncipe Aga Khan IV “foi o mais duradouro líder religioso e espiritual”, apontou Marcelo Rebelo de Sousa, indicando que ele viu passar vários Papas e várias personalidades de todas as confissões religiosas, porque “esteve praticamente quase 80 anos à frente” da comunidade Ismaili, uma vez que “começou muito novo”.
O sucessor
Relativamente ao seu sucessor, o seu filho mais velho, o príncipe Rahim, agora Aga Khan V, que iniciará funções “a partir da próxima terça-feira”, o Presidente da República disse que tem “exatamente a mesma visão” do seu pai, mas com “um estilo diferente”, porque “ainda viajou mais” e “conheceu muitas das comunidades que hoje são diferentes do que eram”.
Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que o príncipe Rahim é “muito virado” para a juventude, para as novas questões sociais e para a questão “da paz e da guerra e dos entendimentos universais “.
“Vai ser agora o líder espiritual para um mundo que está a nascer”, perspetivou, considerando que Aga Khan V vai continuar o trabalho da comunidade Ismaili, “mas a renovação agora é profunda, porque o mundo está a mudar muito”.
Em relação ao posicionamento em Portugal, o Presidente da República revelou que, “na segunda-feira, o príncipe Rahim já pediu uma audiência e vai a Belém para apresentar cumprimentos e tornando claro que Portugal tem um papel fundamental e um papel diferente na relação com a comunidade ismaelita”.
Numa nota divulgada horas depois do funeral, a Presidência da República adiantou que Marcelo Rebelo de Sousa vai também receber em Belém, na próxima semana, “o Presidente do Paquistão, que se desloca a Lisboa para as exéquias”.
“Durante a cerimónia o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa teve, ainda, a oportunidade de trocar impressões com o primeiro-ministro do Canadá, Justine Trudeau”, lê-se também na nota.
O príncipe Aga Khan IV, que morreu na terça-feira aos 88 anos, terá uma cerimónia de acordo com as tradições ismaelitas, como a dos demais crentes, simples e centrada em orações que são, em grande parte, recitações de versículos do Corão.
O 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, nasceu em 13 de dezembro de 1936 na Suíça, cresceu e estudou no Quénia e nos Estados Unidos, e tem ligações ao Canadá, Irão e França, além de Portugal.
Mausoléu de Aga Khan
O mausoléu de Aga Khan, em Aswan, foi construído em 1957 para receber o corpo de Aga Khan III. Entretanto, o monumento só ficou pronto mais de um ano depois da morte do imã. A construção ficou sob a responsabilidade da viúva, Begum Om Habibeh Aga Khan, que contratou um arquiteto egípcio para projetar o mausoléu, que é um dos monumentos mais visitados no Egipto.
“Inspirei-me na Mesquita Giushi. É da época do império Fatimid, e a parte que mais me inspirou foi o Mihrab (o nicho na parede que indica a direção de Meca, para onde se deve virar ao rezar)”, disse, em entrevista de 1992 à Al-Ahram Weekly.
“Algo que as pessoas talvez não saibam é que o monumento foi todo feito à mão. A maior parte do mármore foi esculpido de uma única peça. A única coisa que veio de fora foi o mármore Carrara, um tipo muito especial e puro. O resto é granito e arenito de Aswan”.
O corpo de Aga Khan III foi levado para o mausoléu em 1959, pelas mãos do neto, que assumiu o cargo de imã aos 20 anos. Centenas de Ismailis acompanharam a cerimónia de sepultamento. Agora o mesmo ritual repete-se, com o corpo de Aga Khan IV a ser sepultado no mesmo mausoléu do seu antecessor.