O príncipe André, antigo duque de Iorque, viu-se esta semana no epicentro de um novo escândalo que atravessa os círculos da segurança britânica e as relações com a China. As recentes revelações associam-no a encontros com um alto responsável de Pequim no período crítico entre 2018 e 2019, num caso que envolve alegações de espionagem e que poderá ter impacto directo na imagem da monarquia.
Fontes britânicas confirmam que o príncipe André manteve pelo menos três reuniões com Cai Qi, membro do Politburo e considerado braço-direito do presidente chinês Xi Jinping, durante visitas oficiais à China e no Reino Unido.
Entretanto, dois cidadãos britânicos — Christopher Cash e Christopher Berry — foram acusados em Abril de 2024 de agirem como espias ao serviço da China, sob a acusação de terem transmitido informação sensível relacionada com o Parlamento de Westminster. O processo foi, entretanto, abandonado pela proporção de provas insuficientes.
No meio deste enredo surge ainda a questão de que o príncipe André, já há muito sob pressão mediática pelo caso Jeffrey Epstein, poderá estar agora implicado numa frente de crise institucional, cuja gravidade ultrapassa a esfera privada e entra no domínio dos assuntos de Estado.
Pressão sobre a monarquia e implicações políticas
A acumulação de escândalos — sexuais e de segurança — conduziu a uma escalada de críticas à Casa de Windsor. Segundo fontes próximas do Palácio de Buckingham, o episódio empurra a monarquia a marginalizar o príncipe André.
Paralelamente, o governo britânico enfrenta dura resposta da oposição, que acusa o primeiro-ministro Keir Starmer de ter permitido que o caso da espionagem chinesa se abandonasse por motivos diplomáticos. A agência de inteligência interna (MI5) alertou recentemente que a China representa uma ameaça diária à segurança do Reino Unido.
O facto é que a monarquia, já fragilizada, vê agora um dos seus membros centrais envolvido em alegações que atingem a política externa, algo raro em cidadãos da realeza. O impacto reputacional é significativo.
Cronologia e contexto
Em 2018, o príncipe André integrou uma delegação britânica à China e estabeleceu contacto com Cai Qi e outros altos quadros chineses, no contexto de iniciativas de negócios de que fazia parte.
Em 2019, repetiu a viagem à China e voltou a reunir-se com Cai Qi, desta vez convidando-o a visitar o Palácio de Buckingham.
Em 2023 e 2024 desenvolveram-se os processos contra Cash e Berry, que foram investigados por alegadamente estarem a recolher e transmitir dados ao serviço da China. O caso veio a ser abandonado por falta de provas conclusivas.
Nesta mesma linha, um empresário chinês ligado ao príncipe — Yang Tengbo — foi expulso do Reino Unido em 2023 por motivos de segurança nacional.
Consequências imediatas
Por conseguinte, a opção da Casa de Windsor de afastar o príncipe André de funções públicas surge como resposta a uma crise que já não se limita à esfera pessoal. A legislação para retirada de títulos reais requer — e dependerá — da aprovação parlamentar, mas o desgaste acumulado sugere que tal passo pode estar mais próximo do que era previsível.
Do lado governamental, o abandono do processo de espionagem chino-britânico e os relatórios da MI5 estimulam o debate sobre o equilíbrio entre interesses económicos e segurança nacional. O futuro dos laços Londres-Pequim poderá ficar condicionado pela forma como este caso for gerido.
Em suma, o príncipe André encontra-se envolvido num episódio que conjuga negócios, imagem pública e segurança nacional. O caso não envolve uma condenação formal contra ele, mas o simples enquadramento nas investigações e nas ligações com responsáveis chineses coloca-o sob forte pressão. A monarquia britânica emerge deste episódio com novos desafios, e o Reino Unido tem agora de lidar com a grave intersecção entre relações diplomáticas e suspeitas de espionagem.