A candidatura presidencial de António José Seguro representa, antes de mais, um momento de clarificação política. Para o país, mas sobretudo para o Partido Socialista. Ao contrário do que tem sido repetido em certos meios, não é Seguro que precisa do apoio formal do PS — é o PS que, num momento de fragilidade estratégica e desgaste institucional, precisa desesperadamente de uma figura como António José Seguro para se reerguer e recuperar credibilidade.
A verdade política é simples e muitas vezes desconfortável: em 2026, o eleitorado não procura um militante disciplinado, nem um porta-voz de aparelhos partidários. Procura alguém com visão, com experiência, com autoridade democrática e, acima de tudo, com independência de carácter. Seguro não representa uma fação ou uma corrente dentro do PS; representa uma ideia mais ampla de República, construída sobre valores firmes — a liberdade, a justiça social e o respeito pelas instituições.
A sua carreira, marcada por mais de três décadas de serviço público, é um testemunho raro de consistência e decência na política portuguesa. Ex-líder parlamentar, ex-secretário-geral do PS, eurodeputado, membro da Assembleia Parlamentar da OSCE e profundo conhecedor dos mecanismos da União Europeia, António José Seguro alia conhecimento interno e sensibilidade internacional como poucos. Nunca se afastou da política por cansaço ou conveniência, mas por integridade — um gesto que, com o tempo, se revelou mais eloquente do que qualquer conferência de imprensa.
Durante o seu silêncio, Portugal mudou — e não necessariamente para melhor. O espaço político transformou-se numa arena ruidosa, muitas vezes populista, onde a ponderação passou a ser confundida com fraqueza e a moderação com tibieza. Nesse cenário, o regresso de Seguro à vida pública surge como um sinal de responsabilidade. Não um regresso por nostalgia ou ambição, mas por dever.
A sua candidatura não é contra ninguém — é a favor de algo maior: a dignidade da Presidência da República e a recuperação do sentido de Estado. É precisamente esse perfil que pode unir setores distintos do eleitorado, da esquerda democrática ao centro político, passando por muitos independentes que deixaram de se rever nos partidos tradicionais.
Ao contrário do que se possa pensar, António José Seguro não surge como um candidato da máquina socialista. Surge como um bastião de liberdade, com currículo e autoridade próprios. Um candidato que não precisa do PS para validar a sua legitimidade. Pelo contrário, é o Partido Socialista que encontra nele uma oportunidade rara para se reconciliar com os seus próprios valores fundadores — os de Mário Soares, Salgado Zenha e Manuel Alegre — figuras que também fizeram do respeito pelas instituições e da liberdade de consciência as suas marcas políticas.
Portugal atravessa um tempo de incerteza institucional, fragmentação política e crise de confiança. A escolha do próximo Presidente da República não pode resumir-se a campanhas de marketing nem a slogans vazios. É um momento demasiado sério para banalidades.
Por tudo isto, António José Seguro representa uma escolha de maturidade. Não promete milagres, nem seduz com frases feitas. Traz ao debate público a experiência de quem já viu o país por dentro e por fora, e a lucidez de quem sabe que a democracia se defende com firmeza, mas também com contenção.
O país precisa disso. E o PS, se quiser reencontrar a sua alma republicana, também.
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