Aurora Cunha anunciou que vai apresentar uma queixa-crime contra Dionísio Castro, irmão de Domingos Castro (presidente da FP Atletismo), devido a “ofensas a que foi alvo”. Na origem da troca de palavras estarão as críticas da antiga atleta olímpica e campeã mundial à polémica medida da FPA sobre as licenças para competir numa prova de atletismo.
Aurora Cunha, antiga atleta olímpica portuguesa, anunciou este sábado que vai apresentar uma queixa-crime contra Dionísio Castro, irmão do presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro.
Em causa estão as «ofensas» que Dionísio proferiu sobre Aurora, após esta criticar o facto da FPA querer licenciar todas as provas realizadas em Portugal e todos os que nelas participam, comparando ao ordenado do presidente. Ao ver isto, o ex-atleta e irmão de Domingos Castro, publicou um texto algo violento no Instagram a ofender Aurora Cunha. Apesar de apagado, o que é publicado na Internet, fica na Internet.
«Aurora Cunha não tem vergonha. Invejosa, doente mental após a morte do marido e para resumir é uma coitada com perturbações graves», escreveu Dionísio. A ex-atleta, atualmente com 65 anos, utilizou posteriormente as redes sociais para explicar a situação e anunciar a apresentação da queixa junto das autoridades.
«Informo publicamente que irei apresentar queixa-crime pelas ofensas de que fui alvo. Não por vingança, mas por justiça», esclareceu.
“Chula” do atletismo
“Aurora Cunha é a maior chula do atlestismo português”. É assim que começa a missiva de Dionísio Castro, também ex-atleta e irmão do atual Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro. O ‘post’, entretanto apagado pelo próprio, motivou uma onda de indignação, muita solidariedade para com a antiga campeã e uma reação emotiva da própria nas redes sociais.
Na publicação feita por Aurora Cunha este sábado no Facebook, Aurora Cunha dirige-se a Portugal. “Ao meu querido País. Hoje escrevo-vos com o coração em pedaços. Foi uma noite sem sono, passada em silêncio, entre lágrimas, sem o meu querido Mesquita, que tantas vezes me defendeu, e sem a minha Mariana, longe, no Canadá. Sentei-me no sofá de uma casa que ainda guarda a presença do homem da minha vida, que perdi há tão pouco tempo, e tentei encontrar palavras para expressar o que nunca pensei viver”, começa por escrever a antiga atleta.
“Aos 65 anos, depois de tudo o que fiz e vivi pelo atletismo, pelo meu país, pela saúde, pela vida, sinto-me profundamente magoada, humilhada e atacada. Nunca, em circunstância alguma, imaginei ser alvo de palavras tão baixas, tão cruéis e injustas como aquelas que ontem foram escritas publicamente por Dionísio Castro – figura pública, ex-atleta e irmão do atual Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro”, descreve em seguida.
“Este ataque, absolutamente gratuito e repleto de linguagem ofensiva, ultrapassa todos os limites do razoável. Não é apenas uma difamação pessoal. É uma tentativa vil de silenciar uma mulher que ousou ter opinião, que ousou defender os atletas amadores e questionar uma medida injusta. É um
insulto que envergonha o desporto e que envergonha o país”, qualifica Aurora Cunha, que faz ainda questão de lembrar que ao longo dos anos, foi “mulher, mãe, atleta olímpica, campeã mundial de estrada por três vezes, sobrevivente oncológica e embaixadora da Liga Portuguesa Contra o Cancro” mas que, apesar disso, “sempre viveu com o desporto no coração.
“Aplaudo todos, corro os últimos metros com quem chega, encorajo quem começa. Faço-o com amor, sem esperar nada em troca. E por isso mesmo não posso calar. Porque o que foi dito não me atinge só a mim. É um ataque à dignidade de todas as mulheres, de todos os atletas, de todos os que acreditam que o desporto é elevação, respeito e ética”, reiterou.
Dionísio Castro, note-se, não tem um cargo oficial, mas aparece em vários atos da Federação, ao lado do irmão, o presidente da entidade desportiva. Por isso, Aurora Cunha considera “o silêncio da Federação Portuguesa de Atletismo, perante esta gravíssima agressão verbal, ensurdecedor” e promete apresentar queixa formalmente.
“Esse silêncio legitima e normaliza. Esse silêncio compromete. Por isso, informo publicamente que irei apresentar queixa-crime pelas ofensas de que fui alvo. Não por vingança, mas por justiça. Porque acredito que nenhuma mulher, nenhuma cidadã portuguesa, deve aceitar calada uma agressão desta natureza. E apelo a todos os portugueses, a todas as pessoas de bem: apresentem a vossa queixa moral. Não aceitem que isto se torne normal. O desporto português merece mais. Merece melhor. E a Federação Portuguesa de Atletismo não pode estar entregue a quem tolera ou silencia a violência verbal, o insulto, a humilhação”, remata Aurora Cunha, agradecendo por fim as mensagens de apoio que tem recebido de todo o País e despedindo-se “com o coração partido, mas de cabeça erguida como sempre”.
E tal como a caixa de comentários de Aurora Cunha foi inundada por mensagens de apoio, a de Dionísio Castro encheu-se de críticas, o que levou o ex-atleta a apagar a publicação onde afirmava que a colega era uma “chula”, dizia “mal de toda a gente”, era “invejosa” e que sofria de “perturbações mentais desde a morte do marido”. Terminava a partilha dirigindo-se diretamente a Aurora Cunha: “vai para freira pois é o teu futuro”.