Os bancos controlados por investidores estrangeiros ou nos quais o capital estrangeiro é preponderante representam agora mais de 60% do sistema bancário português, tanto em termos de ativos como de passivos. Este dado, apurado pela Lusa com base em informações fornecidas pela Associação Portuguesa de Bancos (APB), revela a crescente influência internacional na banca em Portugal. As contas foram realizadas a partir dos últimos balanços financeiros disponíveis, datados de junho de 2024.
Entre os principais bancos sob controlo estrangeiro encontram-se nomes como o BCP, Santander Totta, Novo Banco, BPI, Bankinter e Abanca, com um peso significativo no mercado nacional. Em termos de ativos, estes bancos não só detêm o crédito concedido aos clientes, como também apresentam investimentos em outros bancos e instrumentos financeiros, como ações e obrigações. Já no lado do passivo, as responsabilidades dos bancos incluem, entre outras, os depósitos dos seus clientes.
Este crescimento da presença estrangeira no setor bancário português tem vindo a acentuar-se ao longo da última década. Em 2016, os bancos de capital estrangeiro representavam cerca de 50% do total do sistema bancário, um valor que, em 2024, ultrapassou os 60%. Entre os maiores bancos do país, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), totalmente detida pelo Estado português, continua a ser uma exceção, com a sua dimensão e posição no mercado.
Os grupos de capital espanhol, em particular, têm sido os mais ativos na aquisição de instituições financeiras em Portugal, com destaque para o Caixabank, que, em 2017, tomou o controlo do BPI, e o Santander, que ampliou a sua presença após a integração da operação do Banif. O Bankinter e o Abanca também reforçaram a sua posição no país, destacando-se pela compra de ativos de outros bancos, como o Barclays e o EuroBic.
A presença de investidores angolanos, que tinha sido marcante no passado, diminuiu consideravelmente, especialmente após a saída da empresária Isabel dos Santos e o desinvestimento da sua holding Santoro. A Sonangol, petrolífera angolana, mantém uma participação significativa no BCP, sendo o segundo maior acionista da instituição.
A entrada de capital chinês, por sua vez, tem vindo a ser discreta, com o grupo Fosun, que entrou no BCP em 2016, ainda mantendo uma posição relevante, embora reduzida, no banco. A presença dos EUA no sistema bancário português também se dá através do Novo Banco, cujos 75% de capital estão nas mãos do fundo de investimento Lone Star.
O Novo Banco, que surgiu da resolução do BES em 2014, prepara-se para uma possível venda, o que poderá alterar profundamente o panorama da banca em Portugal, com potenciais consequências para o sistema financeiro nacional nos próximos anos. A venda do Novo Banco também poderá implicar a entrada da instituição em bolsa, o que constituiria mais uma mudança importante no setor.
Em suma, o setor bancário português tem vindo a ser progressivamente dominado por capitais estrangeiros, refletindo não só a globalização da economia, mas também a crescente concentração de poder financeiro fora do país. Este movimento é um reflexo das transformações mais amplas que estão a moldar a estrutura económica e financeira de Portugal, com implicações diretas para os consumidores, as empresas e as políticas públicas.