Supervisão europeia apela à prudência dos bancos perante um cenário geopolítico e económico adverso. Em caso de crise, perdas podem ultrapassar os 600 mil milhões de euros.
Os bancos da zona euro enfrentam um contexto de risco crescente. O alerta foi lançado esta segunda-feira por Claudia Buch, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE), durante uma audição no Parlamento Europeu, onde defendeu uma maior robustez institucional para enfrentar potenciais choques macroeconómicos provocados por tensões políticas e comerciais globais.
Segundo a responsável, o sector bancário europeu está a operar num “ambiente desafiante”, alimentado por fatores como o aumento da rivalidade entre potências mundiais, os conflitos armados em várias regiões, a instabilidade nas cadeias de valor e as tarifas comerciais elevadas. Estes elementos têm aumentado a incerteza, reduzido a confiança dos mercados e travado o crescimento económico.
Caso este cenário se agrave, o BCE estima que o rácio de crédito malparado possa atingir os 5,8%, valor semelhante ao registado em 2014, no rescaldo da crise da dívida soberana. Neste cenário, as perdas agregadas do sistema bancário ascenderiam a 628 mil milhões de euros, um aumento de 14% face ao teste de esforço realizado em 2023.
“Estamos vigilantes e esperamos que os bancos tenham a mesma prudência”, afirmou Claudia Buch, sublinhando a importância de preservar a capacidade de apoio à economia real através de instituições resilientes e avaliações de risco voltadas para o futuro.
Os testes de esforço mais recentes incluíram 96 bancos sob supervisão direta do BCE e revelaram, em condições normais, uma forte rentabilidade e capacidade de absorção de perdas. Contudo, perante um choque severo, os impactos poderão ser significativos, sobretudo para os bancos com menor capitalização ou com exposição a economias mais vulneráveis.
Rumo a uma nova arquitetura bancária europeia
A supervisora aproveitou a intervenção em Bruxelas para defender a necessidade urgente de reforçar o quadro de gestão de crises bancárias na União Europeia. Entre as prioridades estão a criação de instrumentos de resolução para um número mais vasto de bancos, bem como o garantir de financiamento suficiente durante os processos de resolução.
“Um quadro de gestão de crises mais credível torna as crises potenciais menos prováveis e menos onerosas”, afirmou Buch, apontando a necessidade de reduzir a dependência dos fundos públicos em eventuais resgates.
A União Europeia encontra-se atualmente a rever a sua arquitetura financeira, com destaque para a reforma do sistema de garantia de depósitos. O objetivo é reforçar a proteção dos depositantes, aumentar a confiança no sistema e garantir maior estabilidade face a choques futuros.
Claudia Buch deixou um apelo à coesão europeia: “Os desafios atuais exigem mais Europa, não menos”, alertando que o enfraquecimento das normas poderá comprometer a confiança no sector bancário europeu e limitar a sua capacidade de reação a novas crises.
A harmonização das regras nacionais, a promoção da concorrência e o aumento da eficiência são, na sua visão, condições essenciais para garantir um sistema bancário mais resiliente, preparado para enfrentar um mundo onde as ameaças económicas e geopolíticas se tornam cada vez mais complexas.