Os mercados financeiros mundiais continuam em queda livre após a decisão do presidente norte-americano Donald Trump de impor direitos aduaneiros massivos a todos os parceiros comerciais. As bolsas asiáticas desabaram esta segunda-feira, com Tóquio a registar uma quebra de 7,35 por cento, enquanto Wall Street antecipa mais um dia de perdas acentuadas
A Goldman Sachs reviu em alta as probabilidades de uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses, de 20 por cento para 45 por cento, alertando que, se todos os direitos aduaneiros anunciados entrarem em vigor na quarta-feira, uma recessão será inevitável.
“Os direitos aduaneiros, que agora trazem dezenas de milhares de milhões de dólares para os EUA, estão em vigor e são uma coisa bela de se ver”, afirmou Trump a bordo do Air Force One, quando questionado sobre a crise nos mercados.
O S&P 500 já caiu 17 por cento desde os máximos de fevereiro, aproximando-se do chamado “bear market”, com analistas a traçarem paralelos com a crise financeira de 2008. A principal diferença reside na postura da administração, que parece encarar o caos económico como um “remédio necessário”.
Durante o fim de semana, enquanto participava em torneios de golfe na Flórida, o presidente norte-americano manteve-se em silêncio sobre a destruição de 6,5 biliões de dólares em valor bolsista ocorrida apenas nas sessões de quinta e sexta-feira.
“Para mim, um défice é uma perda. Teremos superavits ou, no pior dos cenários, alcançaremos o ponto de equilíbrio”, insistiu Trump, reforçando que foi eleito para eliminar os défices comerciais dos EUA com outros países.
Alguns dos mais influentes apoiantes do presidente começaram a distanciar-se das suas políticas comerciais. Bill Ackman, investidor que apoiou a campanha de Trump, alertou publicamente para os riscos: “Caminhamos para um inverno económico nuclear autoinduzido”, escreveu na rede social X.
Também Elon Musk, o homem mais rico do mundo e apoiante de Trump, defendeu surpreendentemente que os EUA e a União Europeia deveriam criar uma zona de comércio livre, contradizendo frontalmente a atual política protecionista da Casa Branca.
Pete Navarro, ideólogo das políticas aduaneiras junto de Trump, respondeu às críticas de Musk afirmando que “ele está no Texas, onde montam as peças dos carros, muitas das quais vêm da China, do México, ou são componentes eletrónicos do Japão ou de Taiwan”.
Na Ásia, as ações das gigantes tecnológicas sofreram quedas significativas. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company perdeu quase 10 por cento, enquanto a Foxconn, principal fornecedora da Apple, registou uma queda de mais de 9 por cento. Empresas como a Alibaba, a Tencent e a Xiaomi continuam em queda livre.
Os mercados estarão atentos esta segunda-feira a possíveis liquidações de hedge funds e ao comportamento dos seguros contra incumprimento, indicadores que em 2008 sinalizaram o agravamento da crise financeira. Segundo o The New York Times, vários bancos já solicitaram aos clientes margin calls, exigindo fundos adicionais para manter posições alavancadas.
A Reserva Federal norte-americana poderá ver-se forçada a alterar drasticamente os seus planos e a baixar as taxas de juro em até 2 pontos percentuais, face aos 0,50 por cento inicialmente previstos para 2025, caso o cenário de recessão se confirme.