Com gorros pretos de pai Natal na cabeça e embrulhos nos braços, mais de uma centena de bombeiros sapadores marcharam esta segunda-feira desde a Câmara de Lisboa até à Assembleia da República, deixando em ambos os locais aquilo a que chamaram “presentes envenenados”. Desta forma, os bombeiros sapadores conseguiram dar “uma bofetada de luva branca” ao Governo que tem insistido que não existem condições para voltar à mesa de negociações, recusando discutir com o sindicato sob coação e perante o que classificou de comportamentos ilegais.
Os bombeiros sapadores voltaram, esta segunda-feira, a sair à rua para uma marcha de protesto. A caminhada começou no Terreiro do Paço e terminou na Assembleia da República. De forma simbólica, levaram “presentes envenenados” de Natal que deixaram à porta da Câmara de Lisboa e do Parlamento. São caixas “cheias de nada”, porque é assim que veem a proposta do Governo para melhorar a carreira e os salários dos sapadores.
Desconstruir a imagem de “arruaceiros” que tem sido passada para a comunicação social pelo executivo foi, de certa forma, o objectivo da manifestação destes profissionais, que se fizeram acompanhar pelos filhos e mulheres e que exigem que o Executivo melhore a proposta sobre a carreira e os salários.
“Vamos desejar aqui umas boas festas a todos, inclusive aos membros do Governo, e desejar que se calhar para o ano comecem a dizer efetivamente as propostas que apresentam”, disse, Ricardo Cunha, garantindo que “para o ano, se o Governo não se chegar à frente”, os bombeiros vão avançar com novas formas de luta, apesar de assegurarem o socorro de modo a que este nunca fique comprometido.
A manifestação de bombeiros sapadores, que percorreu o centro de Lisboa até à Assembleia da República, foi organizada à margem dos sindicatos pelo “Grupo de Sapadores em Luta”, tendo reunido profissionais de todo o país.
“Não há plataformas sindicais, não há política nenhuma à volta. Isto é o descontentamento ao longo dos anos”, salientou, à Lusa, Paulo Carvalho, de 48 anos e há 24 integrado no Regimento de Sapadores Bombeiros do Porto, desvalorizando o facto de os mais de cem manifestantes se terem apresentado com barretes pretos de pai-natal e camisolas com frases alusivas ao protesto.
O protesto surge 20 dias após uma outra manifestação de sapadores bombeiros no centro de Lisboa ter ficado marcada pelo rebentamento de petardos e o lançamento de tochas e fumos, levando o Governo a suspender as negociações. Para os bombeiros, nomeadamente para o Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, a manifestação “desmontou” toda a retórica do Governo que pretendeu criar uma imagem de desordeiros dos bombeiros que, em vez de procurarem, através do diálogo, a solução dos seus problemas laborais, preferiram ir para a rua, “provocando desacatos”.
Contra esta posição governamental, que levou à suspensão das negociações, os bombeiros sapadores argumentam que a imagem deixada nessa manifestação foi apenas “de descontentamento e de tristeza” dos profissionais.
“Nós fazemos sempre de forma pacífica. Somos ordeiros. O protesto desta segunda-feira pretendeu apenas entregar umas prendas ao Governo, para sensibilizar os governantes para a data que estamos a comemorar – amanhã é o Natal – e para o Governo nos dar mais do que está a dar”, defendeu Pedro Ferreira, bombeiro sapador no Porto, de 46 anos.
Ricardo Cunha, líder do sindicato dos bombeiros sapadores, explicando as razões da luta, é perentório: “exigimos uma regulamentação da carreira, que há 22 anos que não é regulamentada, um subsídio de risco plausível, uma carreira atrativa, e respeito da parte do Governo quando se senta à mesa de negociações e quando fala de sapadores”.
Os bombeiros sapadores estão em protesto para exigir a valorização da carreira, que dizem não ser revista há mais de 20 anos, e o aumento de subsídios como o de risco. No início do mês, o executivo suspendeu as negociações com a classe, acusando os bombeiros de estarem a fazer pressão ilegítima, após um protesto que incluiu petardos, tochas e fumos junto à sede do Governo.
Os sapadores são funcionários das autarquias, mas a sua carreira é regulada pelo poder central, o que acrescenta complexidade às negociações. O Governo tem insistido que não existem condições para voltar à mesa de negociações, recusando discutir com o sindicato sob coação e perante o que classificou de comportamentos ilegais.
O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) já agendou uma greve nacional a 15 de janeiro e uma manifestação para junto da Assembleia da República. Será também dia de greve aos serviços não urgentes ou emergentes de saúde e Proteção Civil.