Indústria nacional reforça presença internacional e ganha quota de mercado face à concorrência direta
As exportações da indústria portuguesa de calçado registaram um crescimento notável no primeiro semestre de 2025. Em comparação com o período homólogo do ano anterior, o setor aumentou 5,4% em quantidade e 3,7% em valor, totalizando 36 milhões de pares vendidos e um volume de negócios de 843 milhões de euros, segundo dados divulgados esta segunda-feira pela APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos.
Este desempenho positivo surge num contexto internacional altamente desafiante. De acordo com Luís Onofre, presidente da APICCAPS, “2025 está a revelar-se um ano muito exigente para a indústria de calçado a nível mundial”, mas, apesar das dificuldades, “a indústria portuguesa tem vindo a ganhar quota face aos principais ‘players’ internacionais”.
Portugal exporta mais de 90% da sua produção para cerca de 170 países, o que, segundo Onofre, permite ao setor manter um desempenho globalmente positivo. No entanto, o responsável admite que o sucesso da segunda metade do ano dependerá fortemente da evolução das principais economias mundiais.
Quedas generalizadas entre concorrentes diretos
Enquanto Portugal apresenta crescimento, os principais concorrentes internacionais enfrentam dificuldades. A China, responsável por mais de metade da produção mundial de calçado, registou uma quebra de 12,5% nas exportações no primeiro semestre. México e Turquia, outros dois produtores de referência, viram as suas vendas externas recuar 19,3% e 15,3%, respetivamente. Na Europa, Itália e Espanha também apresentaram resultados negativos, com quebras de 2,6% e 2%.
Estados Unidos continuam a ser aposta estratégica
O mercado norte-americano continua a ocupar um lugar central na estratégia da indústria portuguesa. Apesar de as exportações para os EUA terem recuado 6,4%, totalizando 40 milhões de euros, a APICCAPS destaca sinais de recuperação. Luís Onofre sublinha que o contexto tarifário mais favorável para Portugal poderá abrir espaço para um reforço da presença neste mercado, onde cresce a procura por produtos premium, sustentáveis e com forte identidade.
Em contraste, países como o Brasil, a Índia, a China e o México enfrentam tarifas penalizadoras que variam entre 25% e 50%, o que poderá beneficiar os produtores portugueses.
Investimento e inovação como trunfos nacionais
Portugal está atualmente a investir mais de 100 milhões de euros, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), em áreas como automação, robótica e sustentabilidade. Estes investimentos visam consolidar o posicionamento da indústria nacional como alternativa credível à produção massificada, ambientalmente insustentável e de menor valor acrescentado.
“Portugal pode afirmar-se como uma alternativa sólida no mercado global, aliando qualidade, sustentabilidade e inovação tecnológica”, refere Luís Onofre.
Mercados europeus com desempenhos mistos
No continente europeu, a Alemanha reforçou o seu estatuto de principal destino do calçado português, com um crescimento de 13,1%, atingindo 217 milhões de euros em exportações. França também manteve uma tendência positiva, com um ligeiro acréscimo de 1,4% para 167 milhões de euros.
Por outro lado, os Países Baixos registaram uma quebra de 5,3%, com vendas a fixarem-se nos 94 milhões de euros, o que gera preocupação entre os industriais.
Setor reforça ambição para 2025
Apesar da instabilidade nos mercados internacionais, a indústria portuguesa do calçado continua a consolidar a sua posição global. A competitividade, aliada à capacidade de adaptação e inovação, permite ao setor enfrentar os desafios e transformar as adversidades em oportunidades. A ambição é clara: fazer de 2025 um ano de afirmação decisiva do calçado português nos principais mercados internacionais.
