Em Castelo Branco, a cena jornalística tem vindo a ser ocupada por impostores de carteirinha. Os canais de TV e os órgãos de comunicação social locais, que se apresentam como profissionais da informação, na verdade, não têm qualquer habilitação para o fazer. Na sua maioria, estes “jornalistas” são, na melhor das hipóteses, meros acompanhantes do poder, exibindo-se nas conferências da Câmara Municipal e acompanhando o Presidente como se fossem figuras essenciais para a democracia, quando na verdade não passam de meros espectadores

A comparação com outras profissões é quase automática: seria impensável permitir que alguém exercesse a medicina ou o direito sem a devida habilitação, como uma cédula profissional. No entanto, em Castelo Branco, parece que a função de jornalista, que exige uma formação e certificação específica, pode ser usurpada sem maiores consequências. E é aqui que reside a grande falácia desta situação. O jornalismo, como profissão, requer uma carteira de jornalista ou equiparado, devidamente emitida pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ). Sem ela, esses indivíduos não passam de intrusos que estão a exercer ilegalmente uma função que exige responsabilidades claras e direitos definidos.


É claro que, em qualquer sociedade, a liberdade de expressão e a pluralidade de opiniões devem ser garantidas. No entanto, a liberdade de se expressar não significa que todos possam ser considerados jornalistas. O jornalismo é uma profissão que exige competências específicas e uma ética rigorosa, que, entre outras coisas, implica a veracidade das informações e a imparcialidade na sua transmissão. Quem se apresenta como jornalista sem a devida formação e credenciamento está a violar não só as normas legais, mas também os princípios éticos da profissão.
Tal como um advogado ou um médico que se apresenta a exercer sem estar habilitado para tal, um “jornalista” sem a devida qualificação está a cometer um crime. Não é apenas uma infração legal; é uma afronta ao próprio conceito de jornalismo, que deveria ser um pilar da democracia, não uma ferramenta de manipulação ou propaganda. E, ao contrário do que muitos podem pensar, não se trata de defender um exclusivo dos “verdadeiros” jornalistas, mas de garantir que aqueles que se dizem jornalistas cumpram com a sua responsabilidade de informar de forma correta e imparcial.
Portanto, a situação em Castelo Branco, onde falsos jornalistas se insinuam em eventos oficiais e fazem parecer que a sua presença e a sua “informação” têm validade, é preocupante. Ao aceitar este cenário como normal, a sociedade corre o risco de ver a desinformação ser legitimada, com um impacto negativo na qualidade da democracia local. A verdadeira questão que se coloca não é apenas o reconhecimento de uma profissão, mas a proteção da própria integridade da informação.
Se quisermos que o jornalismo desempenhe o seu papel crucial na sociedade, é imperativo que todos os envolvidos na área sejam devidamente habilitados. Ou, ao contrário, estaremos apenas a permitir que os falsos jornalistas continuem a travar uma guerra contra a verdade, enquanto desfilam em conferências e reuniões, onde não têm lugar.