Aberta mais uma frente na guerra das tarifas de Trump. O Governo chinês exige que as companhias aéreas nacionais não negociem mais contratos com a Boeing. As três maiores companhias aéreas da China têm encomendados, até ao final de 2027, um total de 179 aviões novos da marca americana Boeing, o que representa 20% da produção da empresa aeronáutica.
A guerra comercial iniciada por Trump está a provocar danos colaterais na Boeing. Pequim ordenou às companhias aéreas chineses que deixem de aceitar encomendas da fabricante norte-americana e que suspendam compras de equipamento, avançou esta terça-feira a Bloomberg, que cita fontes próximas do processo.
Pequim pediu ainda às companhias aéreas chinesas que suspendam “quaisquer compras de equipamento e peças de aviões a empresas americanas”.
Os EUA impuseram uma tarifa total de 145% sobre as importações chinesas, enquanto Pequim aumentou as tarifas sobre os produtos norte-americanos para 125%.
Nas últimas semanas, alguns analistas têm apontado o setor da aviação dos EUA como um dos mais afetados pela guerra das tarifas, sobretudo a Boeing.
COMAC e Airbus saem beneficiadas
A empresa sediada em Arlington, Virgínia, poderá ver o preço das suas aeronaves aumentar em comparação com os seus dois principais concorrentes, a europeia Airbus e a Commercial Aircraft Corporation of China (COMAC), que procura ganhar terreno no mercado doméstico com o apoio estatal.
A Boeing foi poupada às tarifas durante o último episódio da guerra comercial, durante a primeira presidência de Trump (2017-2021), mas as suas vendas ao ‘gigante’ asiático têm vindo a cair desde 2019.
Em 2022, a expectativa era que 25% das entregas internacionais da Boeing fossem para a China, mas em 2023 o número desceu para 9%.
Por outro lado, os especialistas acreditam que a escalada da guerra comercial fará com que as empresas americanas de todos os setores vejam preços mais elevados por peças e matérias-primas que compram à China, o que significa que enfrentarão o duplo desafio de ter de realocar parte da sua produção e perder competitividade no mercado chinês.
A guerra comercial desencadeada por Donald Trump intensificou-se a 02 de abril, com o anúncio de “tarifas recíprocas” para os seus parceiros comerciais, uma medida que reverteu uma semana depois, face à queda dos mercados e ao aumento dos custos de financiamento da dívida dos EUA.
Mas, ao mesmo tempo que suavizou a sua ofensiva contra a maioria dos países, aplicando uma tarifa generalizada de 10%, decidiu aumentar as tarifas sobre os produtos chineses, por ter respondido com retaliações.
Os EUA decidiram deixar vários produtos tecnológicos chineses sem impostos, mas Trump disse, no domingo, que as tarifas sobre os semicondutores serão implementadas “num futuro próximo”.
A China pediu a Washington que cancelasse completamente as tarifas, afirmando que “ninguém ganha numa guerra comercial” e que “o protecionismo não tem saída”.