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COIMBRA: Boaventura de Sousa Santos renuncia ao título de diretor emérito do CES de Coimbra

Investigador denuncia perseguição política e falta de transparência no processo de apuramento de responsabilidades

O sociólogo Boaventura de Sousa Santos, fundador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, anunciou ontem a sua renúncia ao título de diretor emérito e à condição de associado do instituto. A decisão foi revelada num comunicado enviado à agência Lusa, onde o investigador classificou o ato como “o passo mais complicado” da sua carreira, mas também “uma libertação” face ao que descreve como um processo marcado por má-fé e manipulações.

“Desde o início deste processo flagrante contra mim, tornou-se evidente que foi orquestrado pela direção do CES com objetivos exclusivamente políticos”, afirmou Boaventura, que acusa a liderança da instituição de ter conduzido ações direcionadas para afastá-lo e atribuir-lhe responsabilidades alheias. Segundo o investigador, a direção recusou-lhe reiteradamente o acesso a documentação essencial para a sua defesa, o que, em sua opinião, transformou o caso num “processo inquisitorial”.

Contexto das denúncias e investigação no CES

As controvérsias em torno de Boaventura de Sousa Santos surgiram após a publicação de denúncias de assédio e abuso de poder no livro Má conduta sexual na Academia – Para uma Ética de Cuidado na Universidade, publicado em 2023. A obra trouxe relatos de três investigadoras que estiveram ligadas ao CES. Em resposta, a instituição suspendeu Boaventura e o investigador Bruno Sena Martins de todos os cargos, em abril do mesmo ano.

Para apurar as denúncias, foi criada uma comissão independente que, em março de 2024, apresentou um relatório confirmando a existência de padrões de conduta abusiva em posições hierárquicas no CES. Contudo, o relatório não identificou nomes específicos entre os acusados. No total, o documento mencionou 78 denúncias relacionadas a 14 pessoas, apresentadas por 32 denunciantes.

Boaventura contesta e avança com ações judiciais

Boaventura garantiu que tentou colaborar com o processo desde o início, mas denunciou a falta de clareza nas acusações e o que considerou serem ações arbitrárias por parte da direção do CES. Num esforço para proteger o seu bom nome, o sociólogo avançou com uma ação cível no Tribunal de Coimbra, em setembro deste ano, visando a tutela da personalidade e a reparação de danos à sua honra.

“Este processo foi conduzido com métodos contrários ao Estado de Direito, numa lógica de perseguição e sem garantias mínimas de defesa”, acusou o investigador, que ainda mencionou ter recebido ameaças inaceitáveis nos últimos dias, precipitando a sua decisão de renunciar.

Um legado em disputa

Boaventura de Sousa Santos é reconhecido internacionalmente pelo seu contributo à sociologia e aos estudos de pós-colonialismo. Contudo, as recentes acusações e os conflitos internos no CES colocaram o seu legado académico sob escrutínio.

“Apesar de tudo, mantenho a convicção de que este passo, por mais doloroso, é o mais correto. Não aceito que a manipulação e as más artes da gestão institucional definam a minha trajetória”, concluiu.

O caso prossegue nos tribunais, enquanto o CES enfrenta um intenso debate interno sobre as suas práticas e a gestão de denúncias de má conduta.

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