A Comissão Europeia anunciou esta sexta-feira uma alteração controversa no estatuto de proteção dos lobos, reduzindo a sua classificação de “estritamente protegidos” para “protegidos”. A medida, que permite a cada país da União Europeia maior flexibilidade na gestão das populações de lobos, foi justificada pelo executivo comunitário com a necessidade de proteger os interesses dos agricultores, particularmente em relação aos ataques de lobos ao gado
A proposta, que entra em vigor ao abrigo da Convenção de Berna, pretende dar mais autonomia aos Estados-membros para adotarem medidas regionais, ajustadas às circunstâncias locais. Embora os países da União possam decidir manter altos níveis de proteção para os lobos, a mudança coloca em causa décadas de esforços para a conservação da espécie, e é vista por especialistas e organizações ambientais como um passo atrás na proteção da natureza na Europa.
De acordo com uma coligação de ONG internacionais, incluindo a WWF, BirdLife Europe, ClientEarth e o European Environmental Bureau, esta decisão é errada e não traz benefícios reais para as comunidades rurais, como a Comissão alega. Pelo contrário, dizem, a medida enfraquece a oportunidade de implementar políticas preventivas eficazes para a convivência harmoniosa entre lobos e seres humanos.
As organizações sublinham que esta decisão representa um precedente perigoso, pois a política de conservação da natureza deve ser guiada pela ciência, e não por interesses políticos. Ao reduzir a proteção dos lobos, a União Europeia põe em risco um dos maiores sucessos da conservação na história recente, ao mesmo tempo que coloca a integridade de várias espécies em risco. O lobo, enquanto predador de topo, desempenha um papel essencial na manutenção do equilíbrio ecológico e na diversidade da fauna selvagem, sendo fundamental para os ecossistemas naturais.
A WWF Portugal, por sua vez, alertou que a decisão da Comissão Europeia compromete não só a proteção do lobo, mas também os esforços de conservação em curso, particularmente no caso do lobo-ibérico, que é classificado como “Em Perigo” no Livro Vermelho de 2023. A redução da sua proteção coloca em risco uma espécie já vulnerável, em declínio tanto em Portugal como em Espanha.
Em resposta à medida, organizações ambientalistas criticam a postura política da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lembrando que ela foi a primeira a propor a redução da proteção de uma espécie no fórum internacional, o que gerou grande controvérsia. De acordo com algumas fontes, a decisão poderia ter sido influenciada por interesses pessoais, incluindo o lamento pela morte de um pónei da sua propriedade em 2022, aparentemente atacado por um lobo.
Portugal, por sua vez, tem demonstrado resistência a esta mudança. A ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, garantiu que o país não cederia na proteção do lobo e anunciou, em setembro do ano passado, o programa “Alcateia 2025-2035”, destinado a reforçar a conservação desta espécie.
Ao mesmo tempo, as organizações ambientais fazem um apelo ao Parlamento Europeu e aos Estados-membros para que resistam a quaisquer tentativas de enfraquecer ainda mais a proteção dos lobos, destacando que esta decisão prejudica a biodiversidade, compromete décadas de trabalho de conservação e coloca em risco o futuro das nossas espécies mais vulneráveis. O lobo, no seu papel essencial como regulador dos ecossistemas, é um aliado vital na luta contra as crises ambientais que afetam o planeta.