Especialistas britânicos alertam que o uso excessivo de ecrãs tácteis está a prejudicar o desenvolvimento dos músculos dos dedos das crianças em idades precoces, uma vez que estes têm dificuldade em segurar lápis e canetas como há uma década, de acordo com relatos recolhidos pelo The Guardian em entrevistas realizadas no Reino Unido.
Também em Portugal o caso é grave. Segundo o relatório School Readiness (Preparação Escolar) da Kindred, que tem em conta o ponto de vista dos pais e dos professores e mede a preparação das crianças na entrada para o 1.º ciclo, apresenta alguns resultados preocupantes. Nomeadamente que 25 por cento das crianças não estão treinadas para utilizar a casa de banho, uma competência que devia ser adquirida “aos 2 ou 3 anos de idade”. O mesmo se passa na utilização simples de uma tesoura para cortar papel ou – imagine-se – de escrever com lápis ou caneta.
Médicos e terapeutas têm constatado uma regressão nas competências motoras finas das crianças, atribuída ao uso intensivo de novas tecnologias desde tenra idade. Sally Payne, terapeuta pediátrica da Fundação Heart of England, afirma que “as crianças não entram na escola com a força e destreza que demonstravam há cerca de dez anos”. Segundo ela, o ato de agarrar e movimentar um lápis requer um forte controlo muscular, que se tem vindo a perder por falta de prática.
Embora as crianças recebam lápis na escola, a sua capacidade de os segurar está a diminuir, uma vez que não têm oportunidades suficientes para desenvolver estas aptidões em ambientes menos estruturados, como em casa ou no pré-escolar.
Nas escolas europeias diversas metodologias de “ensinar a escrever” já incorporam o uso de tablets. O estudo citado diz que esta realidade é um “problema grave”, pois o uso de tablets não estimula o desenvolvimento motor que se obtém com a escrita manual. O texto sublinha que, apesar do pré-escolar dar atenção à motricidade fina, a utilização excessiva de tecnologias em casa compromete o treino desses músculos.
Um dos problemas principais deve-se ao facto de a caligrafia ser uma característica muito própria de cada pessoa e de se desenvolver durante a infância, dizem os pesquisadores.
