A Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) e o experiente ‘broker’ de café verde, Luís Lorena, revelaram à Lusa as causas do alarmante aumento nos preços do café, especialmente do robusta, variante mais consumida em Portugal. A pandemia de covid-19 precipitou uma escalada de mais de 200% nos mercados internacionais, impactando significativamente o setor

Claudia Pimentel, secretária-geral da AICC, apontou para fatores tradicionais de oferta e procura, destacando uma produção insuficiente na África Central e Vietname, principais regiões de origem do café robusta. Isso resultou em uma queda recorde nos estoques globais, agravada pela crescente demanda da indústria, gerando um cenário propício para os preços atingirem níveis históricos.
As alterações climáticas nos países produtores intensificaram as quebras na produção de café verde, exacerbando ainda mais a situação. Além disso, os ataques no Mar Vermelho, onde os Huthis vêm realizando ações contra navios, contribuem para o aumento dos custos de transporte e atrasos na entrega de mercadorias à Europa, incluindo café, conforme enfatizou Pimentel.
Luís Lorena alertou que não há previsão de uma redução nos preços do café a curto prazo. O café robusta, que representa 70% do consumo em Portugal, enfrenta uma procura crescente e disponibilidade limitada globalmente. Os produtores reduzem a produção, impulsionando os preços a níveis sem precedentes.
Durante a pandemia, o fechamento do canal HoReCa (Hotéis, Restaurantes e Cafés) levou as pessoas a consumirem mais café robusta devido aos preços inferiores em comparação ao arábica. A mudança nos ‘blends’ no Norte da Europa, incorporando robusta em percentagens variadas, intensificou ainda mais a demanda, diminuindo a disponibilidade nos mercados e elevando os preços.
A Europa, que anteriormente consumia 39% de robusta e 61% de arábica, agora enfrenta uma realidade de 46% de robusta e 54% de arábica. Lorena destaca que em 2020, um torrefator adquiria café robusta a um custo 246% menor do que o atual. A escassez de países produtores de robusta, como Angola, Camarões e Costa do Marfim voltando-se para o cacau, contribui para a crise.
Diante disso, o Brasil emerge como a única alternativa viável, embora produza robusta em quantidade suficiente. Entretanto, a aceitação limitada desse tipo de café na Europa complica a resolução da crise. Com a produção global comprometida e desafios geopolíticos, o futuro dos preços do café permanece incerto.