Continuamos a celebrar o jubileu dos 475 anos da nossa Diocese. O povo de Deus, por Arciprestados, vai rumando à catedral. É um tempo de festa, de alegria, de avaliação. É um tempo favorável e propício para colocar a reconciliação com Deus e com os outros no centro da vida. Repensar a própria existência, pedir perdão dos pecados com toda a confiança no Deus da misericórdia e reavivar o propósito de, como comunidade diocesana, refundar um clima coletivo de maior empenho na evangelização de todos, sendo todos protagonistas dessa evangelização, são desafios sempre presentes e desejáveis.
Atravessamos a porta santa, somos ‘peregrinos da esperança’. A porta sempre teve grande importância na história da humanidade, como elemento de acolhimento, de segurança, de proteção, de defesa, de passagem entre a vida e a morte entre a morte e a Vida.
Na âmbito cristão, a porta tem valor espiritual. Em Ezequiel é mencionada como a passagem pela qual a glória de Deus entra na casa e também na alma (cf. Iz 43, 1-4). No Evangelho de São João, Jesus fala de si mesmo como sendo a porta” (Jo 10,7). Passar pela porta santa, a porta que declaramos como tal para a celebração deste nosso jubileu, é um exercício simbólico para aqueles peregrinos da esperança que, livremente, querem seguir Jesus, encontrando nele a redenção, a segurança, o acolhimento, o perdão, o sentido para a vida. Não é um gesto mágico nem uma mania, muito menos uma espécie de ‘Maria vai com as outras’. É um gesto cujo valor muito depende de como cada um se prepara para a transpor e dos propósitos que o acompanham, para o presente e para o futuro.
Cada peregrino é convidado a cruzar a porta com espírito de conversão, de renovação, com uma atitude na qual mostre a si mesmo que está a pensar no que significa a sua passagem por aquela porta (Eu sou a porta, disse Cristo). Nessa atitude, cada peregrino faz a oração que a sua devoção lhe ditar, confia em Deus que é rico em misericórdia e avança com aquela alegria e confiança de quem se sente amado e acolhido por Jesus, a única e verdadeira Porta, o Deus misericórdia.
A Diocese foi criada para melhor evangelizar e se criar uma maior consciência da vocação batismal à santidade. Em todos os tempos, todas as pessoas, seja qual for o seu estado de vida, são chamadas à santidade. Essa é a primeira e fundamental vocação de ‘todos, todos, todos’, a vocação à santidade. Como afirma o Papa Francisco, “Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra.
És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais (Alegrai-vos e Exultai, 14).
Como seria bom se, de facto, todos avaliassem o seu desempenho na construção da própria santidade. A vivência desta vocação universal também levaria a uma maior responsabilidade no discernimento e vivência da vocação específica de cada um. Somos ricos em gente tão boa e tão generosa, mas tão pobres que estamos no campo da cultura vocacional em geral!… Até a vocação ao matrimónio tão maltratada anda!…
Mas, o que é preciso fazer e todos o podem fazer? Antes de mais, é preciso fazer com que todos aceitem e vivam o dom da vida como vocação, seja qual for a opção que cada um já fez e nela vive ou a opção que, sobretudo os jovens, ainda vão fazer. A responsabilidade de fomentar a pastoral vocacional ao matrimónio, ao ministério ordenado, à vida consagrada ou na vida laical compete a toda a comunidade dos crentes, a cada crente, mesmo que anónimo. Compete a avós, pais, irmãos, professores, catequistas, escuteiros, amigos, agentes da pastoral, treinador desportivo, membro de associação, confraria ou irmandade, movimento de apostolado, bispo, sacerdote, diácono e outros.
Pertence a todos, a todos os membros da comunidade cristã, sem exceção, e mesmo a quem, não se sentindo membro da comunidade cristã, deseja que cada um dos seus familiares, amigos ou conhecidos seja feliz dando sentido à vida. Tantas pessoas testemunham de forma tão bela e agradecida a ajuda que alguém lhes prestou nesse discernimento da opção vocacional que agora vivem com tanta alegria e êxito! Quando esta missão for, de facto, assumida por todos, a renovação da Diocese e da própria sociedade acontecerá, as comunidades serão mais criativas e mais envolventes, todos partilharão das suas preocupações e necessidades, dos seus problemas e soluções, das suas alegrias e tristezas. Todos entenderão que a Igreja, que somos todos, “não evangeliza porque foi posta perante o grande desafio da secularização, mas porque deve ser obediente ao mandato do Senhor de levar o Seu Evangelho a toda a criatura” (Rino Fisichella, A Nova Evangelização, Ed. Paulus, p.95). A Igreja existe para evangelizar.