A sociedade Liminorke, maior credora privada do Banco Privado Português (BPP), conseguiu que o tribunal confirmasse o julgamento da consultora Deloitte, por alegada negligência nas auditorias realizadas às contas do banco. O valor em causa é de cerca de 54 milhões de euros, que a Liminorke reclama como compensação pelos danos causados pela certificação de contas que, segundo a empresa, não refletiam a verdadeira situação financeira do BPP.
A ação movida pela Liminorke remonta a janeiro de 2013, mas foi apenas no final de outubro de 2024, durante uma audiência prévia no Juízo Central Cível de Lisboa, que se confirmou que o processo seguirá para julgamento. A juíza tentou, sem sucesso, uma tentativa de conciliação entre as partes, e a defesa da Liminorke confirmou que o julgamento está previsto para começar em setembro de 2025.
A Liminorke, que detém mais de 53 milhões de euros em depósitos no BPP, argumenta que, caso a Deloitte tivesse cumprido corretamente o seu dever de auditoria e não tivesse certificado as contas de forma negligente, a empresa nunca teria feito esses investimentos no banco. De acordo com a ação, a Deloitte teria prestado informações falsas, o que levou a Liminorke a perder uma quantia significativa.
Além da consultora, o processo envolve também outras partes, como os ex-administradores do BPP, incluindo figuras como Paulo Guichard, Fezas Vital e Fernando Lima, bem como a situação do antigo presidente do banco, João Rendeiro, que faleceu em 2022, enquanto cumpria pena na África do Sul.
A Liminorke foi fundada por João Rendeiro, inicialmente como um veículo de investimento do grupo BPP na área das energias, tendo sido constituída por 250 acionistas. Em 2008, a sociedade vendeu uma participação na Galp e o dinheiro foi depositado no BPP. Contudo, com o colapso do banco, os acionistas da Liminorke ficaram gravemente prejudicados.
Em termos legais, o advogado da Liminorke, Nuno Cerejeira Namora, criticou o longo atraso do processo, que já dura mais de uma década, e considerou que o início do julgamento representa uma vitória para os lesados. Contudo, a preocupação persiste quanto à capacidade da massa insolvente do BPP de ressarcir devidamente os credores, uma vez que o Estado é o maior credor da instituição bancária.