Vivemos um tempo em que a geografia do poder se desloca mais rápido do que a paisagem se transforma. No interior, onde a terra, a tradição e o tempo tinham outro compasso, assiste-se a mudanças que atropelam o silêncio do costume. Pergunta-se: se perdemos o ritmo da comunidade, que sobra da nossa pertença?
Energia Limpa: Promessa ou Pressão?
A energia limpa é urgente e indispensável. Mas a promessa de desenvolvimento não pode servir de pretexto para ignorar o tecido social dos territórios. Quando megawatts substituem lavouras, quando encostas são cobertas de painéis e não se escuta a população, não se perde apenas solo agrícola — perde-se a dignidade do quotidiano e a voz de quem habita essas terras.
O Poder Local e a Representação
Nas autarquias, o poder assume contornos que vão além da representação. Quem serve quem? O servidor ou o servido? Um sistema que se fecha em si próprio, que confunde crítica com ofensa e aplauso com legitimidade, aproxima-se da tirania mais do que da democracia.
O Debate Nacional e a Televisão do Ruído
O debate público transformou-se em concurso de gritos. Redes sociais e televisão nacional funcionam como megafones de autopromoção, enquanto questões estruturais — despovoamento, interior em declínio, território que se esgota — continuam à espera. O silêncio coletivo torna-se cúmplice, e a omissão, poderosa.
O Contexto Global Reflete-se Aqui
O mundo mostra-nos diariamente que os limites da civilização cedem perante interesses económicos e políticos. Conflitos, crises humanitárias, tensões internacionais demonstram que decisões tomadas à distância afetam vidas humanas. No plano local, acontece o mesmo: a imposição de projetos sem consulta é uma guerra silenciosa contra memória, dignidade e território.
O Compromisso do O Regiões
Aqui, neste interior que chamamos nosso, o O Regiões reafirma o compromisso com a independência editorial e a coragem de perguntar quando todos preferem ignorar. A liberdade de imprensa não é luxo; é base de cidadania. E quando a imprensa se retira ou se dobra, quem perde é o território, é a memória, é o próprio futuro.
Olhar para o Futuro sem Abandonar o Passado
Não vamos calar-nos. Não nos deixaremos intimidar por gabinetes, cadeiras de poder ou quem julga que o público é espectador e não actor. Acreditar no interior não é olhar para trás: é erguer o olhar para o futuro, sem abandonar o passado. Progresso e dignidade podem caminhar juntos. A terra merece que falemos por ela.
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