Washington reforça apoio a Rabat e insiste em “discussões sem demora” enquanto o Conselho de Segurança prepara votação sobre a MINURSO
Os Estados Unidos defenderam que as partes envolvidas no conflito do Saara Ocidental iniciem “discussões sem demora”, tendo como única base o plano de autonomia marroquino para a antiga colónia espanhola. A posição foi confirmada esta segunda-feira pelo Departamento de Estado norte-americano, num momento em que se aproxima uma votação decisiva no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o futuro da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO).
Segundo um responsável norte-americano citado pela agência Europa Press, “o Presidente Donald Trump deixou claro que todas as partes devem envolver-se em discussões sem demora, utilizando o plano de autonomia de Marrocos como a única base para uma solução justa e duradoura para o diferendo”.
A diplomacia de Washington justifica a sua posição com o objetivo de “promover a estabilidade regional” e reafirma a sua confiança na proposta de Rabat como “a via mais realista e sustentável” para resolver o conflito.
Pressão diplomática antes da votação na ONU
A declaração surge a escassos dias da votação no Conselho de Segurança, marcada para quinta-feira, onde será decidido se o mandato da MINURSO — que expira a 31 de outubro — será renovado por seis meses ou um ano.
De acordo com informações avançadas por vários meios de comunicação, os Estados Unidos estão a redigir o projeto de resolução a submeter à votação. O texto apoia claramente as posições de Marrocos e propõe uma renovação mais curta da missão, de apenas seis meses, rompendo com a prática habitual de um ano.
Frente Polisário ameaça abandonar negociações
A Frente Polisário, movimento que luta pela independência do Saara Ocidental, reagiu com firmeza. Numa carta enviada ao embaixador russo junto da ONU, o grupo advertiu que não participará em quaisquer negociações promovidas com base no documento proposto por Washington e suspenderá a cooperação com a MINURSO se a resolução for aprovada tal como está.
A Rússia, que detém neste mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança, poderá desempenhar um papel determinante na votação, face à crescente polarização entre os membros permanentes do órgão.
Trump aposta em acordo rápido
Em declarações recentes à cadeia norte-americana CBS, o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkooff, afirmou que a administração republicana está “a trabalhar em Marrocos e na Argélia” e que “um acordo de paz poderá ser alcançado nos próximos 60 dias”.
Apesar da expectativa criada, o Departamento de Estado recusou comentar as declarações, deixando em aberto se Witkooff se referia à rivalidade entre Rabat e Argel — que romperam relações diplomáticas em 2021 — ou diretamente ao conflito sarauí. A Argélia mantém o seu apoio firme à Frente Polisário e defende o direito à autodeterminação do povo sarauí.
Divergências profundas persistem
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, reafirmou em abril, após um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Burita, que o plano de autonomia é a única base possível para resolver o impasse. Washington garante estar disposto a facilitar progressos diplomáticos, mas apenas dentro desse enquadramento.
Por sua vez, a Polisário manifestou-se recentemente “disponível para iniciar negociações diretas e sérias com Marrocos”, sob a égide das Nações Unidas e sem condições prévias, com o objetivo de realizar o referendo de autodeterminação acordado em 1991.
Numa carta enviada ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente da República Árabe Sarauí Democrática e da Frente Polisário, Brahim Ghali, reiterou o compromisso do movimento com uma “solução pacífica e duradoura” que garanta o direito dos sarauís à autodeterminação e restabeleça a estabilidade regional.
Um conflito que continua sem fim à vista
O Saara Ocidental, antiga colónia espanhola, é considerado pela ONU um território não autónomo em processo de descolonização. Desde 1975, Marrocos controla grande parte do território, propondo um modelo de autonomia sob soberania marroquina, enquanto a Frente Polisário exige a independência total através de um referendo.
Quase três décadas após o cessar-fogo de 1991, o impasse mantém-se e as divergências internacionais continuam a impedir qualquer avanço substancial. A posição norte-americana, agora reafirmada, reforça a pressão sobre a ONU e sobre as partes em conflito, num contexto regional marcado pela instabilidade e pela disputa de influência entre Washington, Moscovo e Argel.








