O maior fundo soberano do mundo, pertencente à Noruega, anunciou esta segunda-feira a decisão de vender as suas participações em 11 empresas israelitas. A medida surge na sequência de uma reavaliação interna determinada pelo Ministério das Finanças norueguês, depois de revelações sobre o envolvimento do fundo numa empresa israelita fornecedora de peças para caças militares.
O Norges Bank Investment Management, responsável pela gestão do fundo soberano norueguês, justificou a decisão com base na “situação extraordinária” no Médio Oriente. “A situação em Gaza constitui uma grave crise humanitária. Investimos em empresas que operam num país em guerra, e as condições na Cisjordânia e em Gaza deterioraram-se recentemente”, afirmou Nicolai Tangen, presidente executivo do fundo, em comunicado oficial.
A polémica surgiu após uma investigação do jornal norueguês Aftenposten, publicada a 4 de junho, ter revelado que o fundo detinha ações da empresa israelita Bet Shemesh Engines Holdings, responsável pela produção de componentes para motores utilizados em aviões de combate israelitas. No dia seguinte, Nicolai Tangen confirmou que o investimento tinha sido realizado em 2023 e que aumentou após o início da ofensiva israelita na Faixa de Gaza.
Face à controvérsia, o primeiro-ministro da Noruega exigiu uma resposta imediata, solicitando ao ministro das Finanças que interviesse junto do Norges Bank. O Ministério das Finanças respondeu pedindo uma revisão da execução do mandato de gestão do fundo e dos investimentos em empresas israelitas, além da apresentação de propostas para novas medidas, caso se justificassem.
Segundo dados oficiais, no final do primeiro semestre de 2025, o fundo detinha ações em 61 empresas israelitas. Destas, 11 estavam fora do índice de referência definido pelo Ministério das Finanças, índice esse que serve como guia para avaliar o desempenho económico e ético do fundo. Foi decidido que todos os investimentos nestas empresas seriam vendidos “o mais brevemente possível”.
O Norges Bank Investment Management esclareceu ainda que a monitorização das empresas israelitas foi intensificada desde o outono de 2024. Desde então, o fundo vendeu vários investimentos e reforçou os seus critérios de escrutínio. “Há muito tempo dedicamos atenção especial às empresas associadas a guerras e conflitos. Desde 2020, estabelecemos contacto com mais de 60 empresas para abordar estas preocupações. Em 39 casos, os diálogos envolveram diretamente a Cisjordânia e Gaza”, concluiu o fundo.
Esta decisão representa um gesto político e económico de grande alcance por parte da Noruega, ao afastar-se de empresas ligadas ao conflito israelo-palestiniano num momento em que a comunidade internacional continua a apelar ao fim das hostilidades e à mitigação da crise humanitária em curso.