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Fungo fossilizado com 300 milhões de anos é descoberto na Serra do Buçaco e revela segredos das florestas primitivas

Nova espécie identificada por investigadores portugueses lança nova luz sobre as relações entre fungos e plantas na Era Paleozoica

Um achado muito interessante em plena Serra do Buçaco, na região de Anadia, está a reescrever parte da história da vida na Terra. Investigadores portugueses identificaram um fungo fossilizado com cerca de 300 milhões de anos, pertencente a uma nova espécie e género até agora desconhecidos da ciência. O fóssil, batizado de Megaglomerospora lealiae, é o maior esporo conhecido da classe Glomeromycetes, um grupo de fungos micorrízicos que desempenha um papel fundamental nas interações simbióticas com plantas.

Fungo fossilizado com 300 milhões de anos é descoberto na Serra do Buçaco e revela segredos das florestas primitivas
Foto: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian A Serra do Bussaco corresponde a uma bacia geológica montanhosa, formada durante o Carbónico Superior, há cerca de 300 milhões de anos.

A descoberta foi liderada por Pedro Correia, paleontólogo do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, e contou com a colaboração dos cientistas Artur Sá (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e Zélia Pereira (Laboratório Nacional de Energia e Geologia). O estudo foi publicado na conceituada revista Geobio, especializada em investigações na intersecção entre biologia e geologia.

Fungo fossilizado com 300 milhões de anos é descoberto na Serra do Buçaco e revela segredos das florestas primitivas
Foto: Universidade do Porto – Pedro Correia

Apesar de medirem apenas 1,6 milímetros, os esporos fossilizados impressionaram os investigadores por sua raridade e implicações científicas. “São fósseis minúsculos, mas com um impacto imenso no que sabemos sobre a vida no passado”, afirmou Pedro Correia.

Um mundo perdido de florestas tropicais exuberantes

O fungo agora identificado viveu durante o final do período Carbonífero, uma época marcada pela presença de densas florestas tropicais, temperaturas elevadas e níveis de humidade constantes. A composição da atmosfera era radicalmente diferente da atual: os níveis de oxigénio atmosférico rondavam os 30% a 35%, bem acima dos atuais 21%, o que permitiu a existência de organismos com dimensões extraordinárias — dos insetos gigantes aos próprios esporos fúngicos.

Simultaneamente, os níveis de dióxido de carbono (CO₂) eram mais baixos, o que impôs desafios às plantas terrestres, obrigando-as a desenvolver soluções eficientes para a absorção de nutrientes. É neste contexto que os fungos micorrízicos como a Megaglomerospora lealiae entraram em cena.

A origem da “internet” das florestas

Os fungos micorrízicos estabelecem relações simbióticas com as raízes das plantas, ajudando-as a absorver minerais e água do solo, em troca de açúcares produzidos pela fotossíntese. Essa colaboração deu origem a vastas redes subterrâneas, hoje conhecidas como redes micorrízicas, que funcionam como uma autêntica “internet das florestas”.

Através dessa rede fúngica, árvores comunicam entre si, partilhando nutrientes e sinais químicos que as ajudam a responder coletivamente a situações de stress, como secas, pragas ou falta de nutrientes. O novo fóssil agora descrito demonstra que este sistema já existia há centenas de milhões de anos, contribuindo para o equilíbrio ecológico das florestas paleozoicas.

“O que hoje chamamos de micélio já existia nessa altura e desempenhava um papel vital nos ecossistemas. Este fungo é prova disso”, destaca Pedro Correia.

Da Serra do Buçaco para o mundo científico

Os fósseis foram encontrados na Bacia do Buçaco, uma formação geológica que preserva camadas sedimentares do Paleozoico, e onde já tinham sido registados vestígios de flora e fauna pré-históricas. No entanto, nunca se tinha identificado algo semelhante.

A nova espécie foi dedicada a Fernanda Leal, aluna de doutoramento da Universidade do Porto, cujo trabalho foi essencial para a identificação e classificação destes fungos fósseis. “É uma forma de homenagear o contributo de uma jovem cientista para uma descoberta de importância global”, refere a equipa.

Implicações para o estudo da evolução e da vida no planeta

Além do seu valor paleontológico, a descoberta oferece pistas preciosas para compreender a evolução das interações ecológicas que moldaram os primeiros ecossistemas terrestres. Os fungos micorrízicos, frequentemente ignorados nos estudos sobre a origem da vida terrestre, revelam-se agora como atores centrais na colonização dos solos e na evolução das plantas.

“Esta descoberta mostra que os fungos não são apenas coadjuvantes na história da vida. Eles foram protagonistas”, conclui Pedro Correia.

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