Gisèle Pelicot Apresenta Queixa Contra Paris Match pela Publicação de Fotografias Não Autorizadas na Primeira Página
Revista francesa divulgou imagens privadas da ativista acompanhada por um homem, alegadamente o seu novo companheiro. Advogado fala em “choque” e “falta de respeito pelo consentimento”.
Gisèle Pelicot, figura pública que se destacou como símbolo da luta contra a violência sexual e ícone feminista em França, apresentou uma queixa formal contra a revista Paris Match. O motivo: a publicação, na capa e no interior da edição desta quinta-feira, 17 de abril, de sete fotografias consideradas pela defesa como “roubadas”, captadas sem o seu conhecimento ou autorização.
Nas imagens, a septuagenária surge acompanhada por um homem, descrito pela revista como o seu novo companheiro, durante um passeio pelas ruas da cidade onde atualmente reside. Para a revista, trata-se de retratar o “retorno à vida” de Pelicot. No entanto, os seus advogados consideram a ação uma clara violação da vida privada e um novo atentado contra o direito ao consentimento da vítima.
“É profundamente chocante, sobretudo tratando-se de uma mulher cuja história é marcada precisamente pela ausência de consentimento durante uma década inteira”, afirmou Antoine Camus, advogado de Gisèle Pelicot, em declarações à AFP. “Cerca de 3.000 fotografias e vídeos foram feitos sem o conhecimento da minha cliente durante o seu calvário. E agora, após quatro meses de julgamento, ser novamente alvo de paparazzi demonstra uma incompreensão total da gravidade do que se passou.”
A defesa assegura que irá agir no plano jurídico com o objetivo de responsabilizar Paris Match por invasão de privacidade e publicação indevida de conteúdo pessoal. “Sempre que a vida privada de um cliente for violada, reagiremos e procuraremos uma condenação exemplar”, garantiu Camus.
Uma História de Coragem e Reconstrução
Gisèle Pelicot enfrentou os seus agressores entre setembro e dezembro no tribunal criminal de Vaucluse, recusando que o julgamento decorresse à porta fechada, com o objetivo de “mudar a vergonha de lado” e devolver a dignidade às vítimas de violência sexual. O caso, de grande mediatismo, revelou os horrores sofridos pela vítima durante mais de dez anos: foi drogada pelo então marido e submetida a abusos por dezenas de homens recrutados online.
Pelo seu papel ativo na denúncia e na recusa do silêncio, Pelicot foi recentemente nomeada pela revista norte-americana Time como uma das “100 pessoas mais influentes de 2025”.
Segundo o seu advogado, a ativista está agora focada na reconstrução da sua vida e na escrita de um livro que lhe permitirá “manter o controlo da sua própria história”. Camus desmentiu ainda informações avançadas por Paris Match sobre uma eventual adaptação cinematográfica da sua vida com a plataforma HBO. “Não existe qualquer contrato assinado com a HBO”, esclareceu.
Algumas das fotografias publicadas pela revista mostram a presença de uma equipa de filmagem a seguir Pelicot num mercado, o que levou à especulação sobre um projeto audiovisual em curso. A defesa rejeita essas alegações e reforça que a única prioridade de Gisèle neste momento é a sua recuperação pessoal e a preservação da sua privacidade.
Contactada pela AFP, a direção editorial da Paris Match não respondeu até ao momento.