Jorge Nuno Pinto da Costa, eleito presidente do Futebol Clube do Porto a 23 de abril de 1982, marcou uma era singular no desporto português e internacional. Com um reinado que se estendeu por mais de quatro décadas, o “Papa” transformou o clube num verdadeiro império, erguendo troféus não só no futebol, mas também noutras modalidades como andebol, basquetebol, hóquei em patins, natação, atletismo, bilhar e boxe
Desde a sua primeira eleição, Pinto da Costa impôs um estilo de gestão enérgico e polémico, que se traduziu num palmarés recorde. Sob a sua liderança, os “dragões” conquistaram 23 campeonatos nacionais, 15 Taças de Portugal, duas Ligas dos Campeões, duas Taças UEFA, duas Taças Intercontinentais e uma Supertaça Europeia, entre muitos outros troféus. Além do futebol, as secções de andebol, basquetebol e hóquei em patins registaram evoluções notáveis, elevando o FC Porto a uma posição de liderança em diversas modalidades – um feito inédito em Portugal.
A figura de Pinto da Costa ultrapassa os limites do campo desportivo. Oriundo de uma família tradicional do Porto, o dirigente cresceu com uma ligação profunda à cidade e ao clube, tendo sido influenciado desde cedo por figuras familiares que o aproximaram do mundo do FC Porto. Esta ligação pessoal e emocional foi determinante na sua aposta pelo clube, que sempre se viu como extensão da sua própria identidade e da sua família.
No entanto, a sua longa gestão também semeou controvérsias e polarizou opiniões. Pinto da Costa soube construir, ao longo dos anos, uma rede de aliados leais – entre os quais se destacava a parceria com o lendário José Maria Pedroto, cuja colaboração ajudou a romper um jejum de títulos e a inaugurar a nova era dos “dragões”. Por outro lado, o seu estilo franco e, por vezes, agressivo, gerou inimizades profundas com figuras do desporto e da política, como Rui Rio e Fernando Gomes, que criticaram a sua gestão e o que consideravam práticas autoritárias e centralizadoras. Até alguns dirigentes rivais de clubes, como Luís Filipe Vieira, foram frequentemente alvo das suas tiradas mordazes, marcando uma guerra de palavras que se tornou habitual na imprensa desportiva.
Entre as frases que ficaram na memória dos adeptos destaca-se aquela proferida com o seu humor cortante, quando, ao reagir à penhora de bens do clube, afirmou:
“Até a sanita eles penhoraram”
O comentário que refletia não só a sua irreverência, mas também a sua capacidade de transformar crises em momentos de afirmação institucional.
O legado de Pinto da Costa transcende os limites desportivos. A sua influência contribuiu para que o FC Porto se tornasse numa marca reconhecida mundialmente, capaz de atrair talentos, negociações milionárias e parcerias internacionais. A sua história está intrinsecamente ligada à modernização das infraestruturas – da demolição do antigo Estádio das Antas à construção do Estádio do Dragão –, bem como à renovação da imagem do clube, que passou a ser sinónimo de competitividade e prestígio em Portugal e além-fronteiras.
Apesar das críticas e das inimizades que acompanhavam o seu mandato, a trajetória de Pinto da Costa é inegavelmente impressionante. O dirigente polarizou opiniões: para os seus adeptos, era o artífice de um império desportivo; para os seus detratores, um gestor implacável, cuja postura autoritária refletia um sistema fechado e pouco transparente. Ainda assim, a sua importância no cenário nacional e internacional é indiscutível, tendo moldado uma época em que o FC Porto deixou de ser apenas um clube, para se transformar num símbolo da capacidade portuguesa de competir em alto nível.
Em suma, a liderança de Pinto da Costa foi marcada por êxitos extraordinários, inovações estruturais e uma personalidade inconfundível, que, com frases polémicas e decisões firmes, ajudou a elevar o desporto português a patamares nunca antes imaginados.