A Iberdrola vai apresentar uma queixa judicial contra a presidente da Red Eléctrica de España (REE), Beatriz Corredor, na sequência de declarações públicas em que esta apontou responsabilidades às empresas produtoras de eletricidade pelo apagão que afetou Espanha e Portugal a 28 de abril. A informação foi divulgada esta segunda-feira por diversos órgãos de comunicação social espanhóis, citando fontes jurídicas.
As mesmas fontes adiantaram à agência EFE e ao jornal El Mundo que a elétrica espanhola prepara ações legais contra a responsável máxima da REE, considerando que as suas declarações atentam contra a honra da empresa. Em causa está uma intervenção de Beatriz Corredor no Senado espanhol, a 11 de setembro, durante a qual atribuiu o colapso do sistema elétrico ibérico a incumprimentos das obrigações por parte das empresas geradoras de energia.
Embora não tenha referido nomes, a presidente da REE fez alusão a uma central fotovoltaica localizada na zona de Badajoz, que terá tido um “comportamento indevido” no momento do incidente, tornando o sistema “muito mais vulnerável”. A imprensa espanhola identificou essa unidade como pertencente à Iberdrola, o que motivou a reação da empresa, que considerou as declarações uma insinuação inaceitável.
Num relatório publicado em junho, a Red Eléctrica rejeitou qualquer falha de planeamento e responsabilizou diretamente os produtores de eletricidade, alegando que, se os geradores com obrigação de controlo dinâmico de tensão tivessem cumprido as normas em vigor, o apagão poderia ter sido evitado. “Não há dúvidas. É um apagão em Espanha que afetou Portugal”, afirmou, na altura, Concha Sánchez, diretora-geral de Operação da REE.
A REE indicou que, a partir das 12:03 locais de 28 de abril, ocorreram oscilações relevantes no sistema elétrico, culminando no desligamento súbito de várias centrais de produção. Segundo a operadora, este desligamento ocorreu de forma incorreta, já que os parâmetros de tensão estavam dentro dos limites legais.
A controvérsia intensificou-se após a publicação, em outubro, do relatório da Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E), que classificou o apagão como o mais grave dos últimos 20 anos no sistema elétrico europeu. A falha foi qualificada como de “escala 3” – o nível mais elevado previsto na legislação europeia – e afetou milhões de cidadãos em toda a Península Ibérica, com consequências significativas para serviços essenciais.
Segundo a ENTSO-E, o incidente teve início às 12:32 (hora de Bruxelas), quando diversas centrais solares e eólicas no sul de Espanha se desligaram abruptamente da rede, com perdas sucessivas em regiões como Granada, Badajoz, Sevilha e Cáceres. As análises efetuadas na véspera pelos centros de coordenação regionais não tinham identificado riscos relevantes, o que levanta dúvidas quanto à capacidade de antecipação e resposta do sistema.
O Governo espanhol, por sua vez, partilhou as culpas entre a REE e os produtores de energia, reconhecendo tanto falhas de planeamento como incumprimentos das obrigações técnicas.
A disputa entre a Iberdrola e a Red Eléctrica abre agora um novo capítulo nos tribunais, com implicações potencialmente graves para o setor energético e para a gestão de crises no sistema elétrico ibérico.