Os jovens trabalhadores, agora elegíveis para beneficiar do IRS Jovem, encontram-se com dúvidas sobre a melhor forma de aplicar as novas regras fiscais. A bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), Paula Franco, revelou que os mais novos estão a tomar decisões diferentes quanto à forma de lidar com a retenção na fonte. Enquanto alguns optam por ajustar imediatamente a retenção para beneficiar das isenções fiscais, outros preferem esperar pelo reembolso, considerando-o como uma forma de poupança.
Em entrevista à Lusa, Paula Franco afirmou que a divisão é notória. “Está extremamente dividido: muitos preferem fazer já a retenção na fonte e outros preferem adiar para o momento do reembolso”, explicou. A decisão, segundo a bastonária, está a depender muito da situação pessoal de cada jovem, nomeadamente das suas necessidades financeiras e da sua prudência em relação a poupanças futuras.
Para alguns, como aqueles que já enfrentam encargos como rendas ou empréstimos, a opção pela retenção imediata parece ser a mais lógica, permitindo-lhes uma maior liquidez mensal. Já para outros, como aqueles que ainda vivem com os pais, a preferência é manter a retenção habitual e esperar pelo reembolso no final do ano, o que representa uma forma de poupança forçada.
A Lusa recolheu testemunhos de jovens que confirmam esta divisão de opções. José Silva, por exemplo, com oito anos de experiência profissional, optou por continuar com a retenção normal, sem recorrer às novas regras do IRS Jovem, preferindo esperar pelo reembolso para fazer uma poupança. O mesmo aconteceu com Afonso Jesus, que, apesar de estar isento de IRS em 2025, preferiu manter os descontos mensais em vez de alterar a retenção na fonte.
Outros, como David Fonseca e Jorge Faria, escolheram não mexer na retenção, confiando que, no momento da entrega da declaração, será possível fazer os ajustes necessários. Faria, inclusive, revela que prefere esta abordagem pois receia que, caso alterasse a retenção, acabasse por ter de pagar mais IRS devido a uma eventual discrepância nas contas.
Por outro lado, jovens como Pedro Lourenço, Joana Fonseca, Catarina Sousa e Hugo Simões, ao contrário, já sentiram o impacto da mudança nas suas finanças, adaptando-se às novas regras para ver mais dinheiro no seu rendimento líquido mensal, ou para aplicar em poupança.
A realidade nas empresas reflete também esta divisão, com cerca de metade dos trabalhadores com menos de 35 anos a optarem por ajustar a retenção para beneficiar imediatamente do IRS Jovem. No entanto, uma falha na aplicação das novas regras de retenção em janeiro levou a que o desconto fosse mais baixo do que o devido. A Autoridade Tributária esclareceu a situação, assegurando que os ajustes retroativos não são necessários, mas alertando que a mudança era essencial para evitar surpresas no momento da entrega da declaração anual.
Paula Franco sublinhou que, sem este ajuste nas regras, muitos jovens poderiam ser chamados a pagar IRS na declaração anual, o que seria um pesadelo para quem não tem poupanças. “Não seria nada agradável, sobretudo para jovens que não têm qualquer tipo de poupança”, afirmou a bastonária, destacando que a clarificação das regras traz maior segurança para quem optar pela retenção na fonte.
Além de ter sido alargado o período de isenção do IRS Jovem de cinco para 10 anos, o regime agora abrange todos os trabalhadores até aos 35 anos, sem a necessidade de estar vinculado a um ciclo de estudos. Os jovens que preenchem os requisitos podem beneficiar de isenções fiscais progressivas, que vão desde 100% do rendimento no primeiro ano de trabalho até 25% nos três últimos anos, desde que o rendimento anual não ultrapasse os 28 mil euros.
Esta divisão nas escolhas fiscais dos jovens reflete as diferentes necessidades e estratégias financeiras de cada um, e a clarificação das novas regras será, sem dúvida, fundamental para que possam tomar decisões mais informadas e adequadas à sua realidade económica.
