Ao fim de três longos anos de promessas e anúncios, o presidente Leopoldo Rodrigues parece ter-se tornado mais um locutor de rádio do que um líder executivo. Todos os fins de semana, é como se a cidade de repente tivesse o privilégio de entrar num novo capítulo de um livro de promessas não concretizadas. Desta vez, o alvo do anúncio foi o Mercado Municipal, também conhecido como a Praça, bem no coração da nossa cidade. A ideia é, em teoria, sedutora: uma praça renovada, cheia de vida, um novo ponto de encontro. Mas, na prática, ficamos sempre pela teoria, como um sonho sem final, uma promessa a meio caminho.
Imagine-se a ir para a cama, adormecer e, nos sonhos, visualizar uma cidade transformada, uma utopia. A verdade é que a cidade, tal como a imaginamos em sonhos, já estava no imaginário de muitos cidadãos muito antes de Rodrigues alguma vez se imaginar presidente. O que falta a esse sonho, a essa ideia bonita, é alguém que acorde e a concretize. Por isso, pedimos: Rodrigues, será que um dia se digna a pegar no cimento e nas pedras? A ir além das cerimónias de imprensa e dos discursos triunfais?
Estamos num ponto de exaustão. A população, essa, começa a descrer de cada promessa sua, pois a estratégia de “anúncio” já perdeu todo o brilho. A cada conferência de imprensa, mais um milionário montante prometido para papel; a cada fim de semana, mais um projeto visionário que, no fundo, apenas perpetua o seu papel como megafone da autarquia. Obras, isso é que ninguém vê. Fala-se de milhões, fala-se de parcerias, fala-se de projetos que certamente vão “mudar tudo”, mas, até agora, a única coisa que mudou é o calendário, que nos lembra de quanto tempo já passou sem que a cidade visse uma única pedra sair do lugar.
E o mais irónico? Rodrigues está a anunciar para o vazio. Com as eleições autárquicas de 2025 à porta, cada vez mais parece que ele está a preparar o terreno para o seu sucessor cortar as fitas das inaugurações. Se o atual ritmo se mantiver, o seu maior feito poderá vir a ser o convite para assistir a uma obra que ele próprio anunciou, mas que o próximo presidente irá inaugurar.
O senhor Rodrigues poderá continuar a erguer anúncios de domingo a domingo, mas se não pegar em cimento e tijolo, corre o risco de ver o próprio nome apagado da memória coletiva como o presidente que mais anunciou e nada fez.