A ministra da Administração Interna desvalorizou o facto de o dispositivo de combate a incêndios não estar com todos os meios aéreos operacionais. Saber quando meios aéreos faltam “não ajuda nada”, afirmou Maria Lúcia Amaral, numa visita à Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (AEPC). “De facto não faltam” meios, pois estão disponíveis 72 aeronaves, acrescentou. António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros, explica que “muitos dos incêndios são controláveis, não pelos meios aéreos, mas pela utilização de máquinas de rastos”
O presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes, considera que a explicação do secretário de Estado da Proteção Civil sobre as declarações da ministra da Administração Interna são razoáveis e afirma que os meios aéreos são importantes no combate aos incêndios, mas nem sempre são a opção mais eficaz.
“Há aí um factor psicológico. É que, de facto, o aparecimento do meio aéreo dá uma tranquilidade às populações. E não só às populações, também aos senhores autarcas. Muitas das vezes os meios aéreos que estão a ser empenhados num determinado teatro de operações têm uma eficácia baixa ou mesmo nula, mas dá essa tranquilidade e isso também é importante”, disse António Nunes em declarações à TSF.
A ministra da Administração Interna defendeu esta terça-feira que é irrelevante o número de meios aéreos de combate a incêndios, uma vez que o que está a causar “dificuldade aos operacionais” nos fogos em curso são as características do terreno. Considerando que Maria Lúcia Amaral, foi mal-interpretada, o secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, reiterou que a eficácia destes depende das características dos fogos em curso.
O presidente da Liga dos Bombeiros explica como se deve utilizar as aeronaves: “Do ponto de vista do combate ao incêndio florestal e é a posição que nós nos estamos a colocar, eu tenho diversos tipos de meios aéreos, desde logo, helicópteros ligeiros, helicópteros pesados, aviões com maior e menor capacidade e com isso, maior ou menor manobrabilidade e, portanto, eu tenho que utilizar os meios aéreos de acordo com a orografia, com o desenvolvimento do incêndio, com as condições meteorológicas. Muitas vezes não conseguimos utilizar os meios aéreos porque o fumo produzido pelo próprio incêndio não nos permite utilizar, as neblinas matinais. Portanto, há aqui um conjunto de fatores.”
Mais do que as aeronaves, António Nunes diz que o papel dos bombeiros é o mais importante e pede investimento em viaturas terrestres, nomeadamente as máquinas de rastos.
“Num combate ao incêndio florestal, o decisivo são os bombeiros, são as viaturas de combate a incêndio e até, a nossa opinião e aqui é uma opinião até um pouco mais pessoal, todos nós nos preocupamos com o número de meios aéreos e poucos nos preocupamos com o número de máquinas de rastos. Muitos dos incêndios são controláveis, não pelos meios aéreos, mas pela utilização de máquinas de rastos”, considera.
E justifica: “Numa primeira fase, os meios aéreos são fundamentais, em particular, na primeira intervenção, são fundamentais para, numa articulação permanente terra-ar, conseguir encontrar formas de penetração nas frentes de fogo para se debelar as chamas. E as máquinas de rastos são fundamentais não só para abrir aceiros, caminhos, desimpedir, permitir que os bombeiros cheguem a essas frentes de fogo, mas também garantir umas faixas de separação entre aquilo que ardeu e aquilo que não ardeu.”
Ainda sobre as aeronaves, António Nunes refere ainda que é impossível que estejam em permanência no ar a combater incêndios.
“O meio aéreo não funciona 24 horas sobre 24 horas. O meio aéreo funciona de acordo com a sua disponibilidade de combustível ou de contrato. Se nós contratarmos meios aéreos de nascer ao pôr do sol e se contratarmos em permanência os 72 meios aéreos no ar naturalmente, que do nascer ao pôr do sol não chegam 72 meios aéreos, porque, ao final de uma hora e meia ou duas horas, o meio aéreo tem que parar para fazer reabastecimentos, revisões nalguns casos e temos de contar que muitos deles podem ter uma avaria”, esclarece.
O presidente da Liga dos Bomebeiros dá um exemplo recente: “Ainda agora há um em Arcos de Valdevez que teve um ligeiro incidente sem causas maiores, mas teve e está inoperacional. Portanto, nós temos que contar com isso. O problema de termos em permanência 72 meios aéreos no ar tem custos de tal forma significativos que porventura uma análise custo-beneficio não é possível fazer.”