A investigadora Ethel Baraona Pohl traça paralelismos entre Lisboa e Barcelona no impacto do turismo sobre o mercado imobiliário e apela a uma regulação mais eficaz para mitigar os efeitos negativos na habitação e na vida quotidiana das populações locais.
Ethel Baraona Pohl, cofundadora da dpr-barcelona e investigadora no departamento de arquitetura da ETH Zürich, afirmou em entrevista à Lusa que Lisboa está a seguir o mesmo caminho que Barcelona, embora com um atraso de “dois ou três anos”, no que diz respeito à pressão turística. A investigadora, que se encontra em Lisboa para o festival “Uma revolução assim – luta e ficção: a questão da habitação”, organizado pelo Goethe-Institut Portugal, sublinhou a importância de uma regulação mais firme para impedir o avanço do turismo de massas, responsável pela especulação imobiliária e pelo aumento dos preços de arrendamento.
Baraona Pohl reconheceu que as políticas do governo português trouxeram alguns progressos, mas alertou que a cidade pode cair na mesma armadilha que Barcelona enfrentou, onde a explosão turística levou a uma escalada descontrolada dos preços da habitação, tornando o centro da cidade inacessível para muitos dos seus residentes. “Espero que Lisboa já tenha ultrapassado o período extremo que Barcelona viveu nos últimos anos”, afirmou, referindo-se ao impacto de políticas orientadas exclusivamente para a rentabilidade financeira e a promoção do turismo em massa.
Segundo a investigadora, nos últimos anos, Barcelona adotou várias regulações para o setor de alojamento local, o que trouxe uma maior tranquilidade ao ambiente urbano. No entanto, defendeu que apenas uma intervenção política equilibrada poderá garantir que as rendas permaneçam acessíveis e que o comércio local não seja monopolizado por interesses turísticos. “É fundamental que as pessoas locais ainda possam tomar um café ou uma cerveja sem que os preços sejam inflacionados pelo turismo”, observou.
Com um foco especial na habitação inclusiva para os grupos mais vulneráveis, Baraona Pohl referiu a necessidade de criar espaços próprios para mulheres, pessoas idosas, racializadas e membros da comunidade LGBTQ+, onde possam sentir-se mais seguras e integradas. Para a investigadora, o desafio da inclusão habitacional requer uma abordagem sensível e personalizada, desenvolvida em colaboração direta com as comunidades afetadas, de modo a atender às suas necessidades específicas.
Em Barcelona, projetos habitacionais cooperativos têm sido um sucesso nos últimos anos, funcionando como um exemplo positivo para outras cidades enfrentarem o mesmo tipo de exclusão habitacional. Baraona Pohl destacou também a sensibilidade dos jovens arquitetos, que ainda não estão imersos nas dinâmicas do mercado, como um fator essencial para o desenvolvimento de soluções habitacionais mais justas e equilibradas.
O festival “Uma revolução assim – luta e ficção: a questão da habitação”, onde estas questões estão a ser debatidas, prolonga-se até ao próximo domingo, com várias iniciativas a abordar a crise habitacional em Portugal e no mundo.