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Lisboa: PSD à toa com autárquicas

O PSD em Lisboa atravessa uma crise profunda devido ao processo “Tutti-Frutti”, que investiga acusações de corrupção envolvendo figuras como Luís Newton e Ângelo Pereira, ameaçando a preparação do partido para as eleições autárquicas de 2025. Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal, adota uma postura cautelosa, enquanto outras vozes no partido exigem ação e transparência.

Escândalo “Tutti-Frutti” no Centro da Controvérsia

O processo judicial “Tutti-Frutti”, em curso desde 2018, ganhou novos contornos com a acusação formal de 60 pessoas, entre autarcas, militantes do PS e PSD, e empresários, por crimes como corrupção ativa e passiva, prevaricação e abuso de poder. A investigação centra-se em alegados favorecimentos na atribuição de contratos e cargos públicos em Lisboa, com ramificações que atingem diretamente a estrutura do PSD na capital. Este caso tem sido comparado ao processo “Operação Marquês”, que envolveu José Sócrates, devido à sua complexidade e impacto político, embora os contextos sejam distintos.

Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela e deputado na Assembleia da República, enfrenta dez acusações, incluindo corrupção passiva e participação económica em negócio. Após a formalização das acusações, Newton suspendeu o mandato parlamentar, mas mantém-se à frente da junta, o que gerou críticas internas. “Não vou abandonar os meus eleitores”, declarou Newton em comunicado, defendendo a sua inocência e prometendo lutar contra o que chama de “perseguição política”. A sua decisão de não abandonar os cargos locais intensificou as divisões no PSD Lisboa, com alguns militantes a exigirem a convocação urgente de eleições na concelhia, adiadas há dois anos.

Na Junta de Freguesia do Areeiro, o presidente, acusado de 39 crimes de corrupção passiva, também suspendeu o mandato, alegando “razões de saúde”. OREGIOES confirmou que Fernando Braancamp está, de fato, com uma doença prolongada em estado crítico. Contudo, fontes próximas do processo revelam que a suspensão está diretamente ligada às investigações do “Tutti-Frutti”. Um militante anónimo do PSD afirmou ao jornal: “Isto é uma vergonha. Estamos a perder credibilidade a cada dia que passa com estas figuras a agarrarem-se ao poder.” No Areeiro um membro do executivo, Pedro Jesus, é agora a esperança para reconquistar a freguesia – um dos poucos imaculados pelas acusações.

Carlos Moedas Sob Pressão e Divergências no Partido

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, tem tentado manter uma posição equilibrada em meio ao escândalo. Sobre Ângelo Pereira, vereador acusado no processo, Moedas declarou: “Que eu saiba, o senhor vereador Ângelo Pereira não é acusado, mas a minha coerência será total. Uma coisa é a pessoa estar a defender-se, ser arguido, outra é estar acusado.” Esta postura gerou controvérsia, com alguns a interpretarem-na como uma tentativa de proteger aliados políticos. Ângelo Pereira, por sua vez, mantém-se em silêncio, mas fontes judiciais indicam que enfrenta acusações relacionadas com a adjudicação de contratos a empresas ligadas a militantes do PSD.

A posição de Moedas contrasta com a de José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado e figura influente no partido, que tem sido vocal nas críticas. “Ninguém é juiz em causa própria. O PSD não pode ficar refém de suspeitas eternas”, afirmou Martins em entrevista à RTP, defendendo que o partido deve agir rapidamente para afastar os acusados e evitar danos maiores. Já Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, tentou minimizar a polémica: “Quando foram eleitos, não eram suspeitos. A justiça que faça o seu trabalho.” Esta divergência de opiniões expõe uma liderança fragmentada e incapaz de encontrar consenso.

Juntas de Freguesia em Ebulição e Novas Ligações Judiciais

A crise não se limita às figuras de topo. As juntas de freguesia de Estrela e Areeiro, diretamente afetadas pelas suspensões dos seus líderes, enfrentam lutas internas pelo poder e uma paralisia na tomada de decisões. Na Estrela, militantes acusam Newton de “gestão danosa” e apontam para contratos suspeitos com empresas de construção, um dos focos do “Tutti-Frutti”. No Areeiro, a saída do presidente abriu uma guerra de sucessão, com dois candidatos a reclamarem a liderança, mas sem capacidade legal para avançar enquanto o processo judicial decorre.

Mais recentemente, a Junta de Freguesia de Santo António tornou-se outro epicentro da polémica, após buscas realizadas pela Polícia Judiciária no âmbito do “Tutti-Frutti”. Documentos apreendidos sugerem irregularidades na gestão de fundos públicos e na contratação de serviços, envolvendo nomes próximos da estrutura local do PSD. “Isto é só a ponta do icebergue”, afirmou uma fonte judicial ao jornal Público, insinuando que o escândalo poderá alcançar outras freguesias e até figuras da direção nacional do partido.

A ligação do “Tutti-Frutti” a outros processos judiciais também alimenta a polémica. Há suspeitas de que algumas das empresas investigadas tenham conexões com o caso “Vistos Gold”, que abalou o PS em 2014, e com o processo “Operação Lex”, envolvendo juízes e advogados. Embora estas ligações ainda estejam sob investigação, elas amplificam a percepção de uma rede de corrupção enraizada nas elites políticas lisboetas.

Implicações para as Autárquicas de 2025

Com as eleições autárquicas previstas para Setembro ou Outubro de 2025, o PSD Lisboa enfrenta um desafio monumental. O escândalo “Tutti-Frutti” não só mancha a imagem do partido como compromete a sua capacidade de mobilizar militantes e eleitores. “Estamos a assistir a uma implosão em câmara lenta”, comentou o politólogo André Freire à SIC Notícias, alertando que o PSD corre o risco de perder terreno para o PS e forças emergentes como o Chega, que já capitalizam o descontentamento popular.

A crise também reacendeu críticas à liderança nacional de Luís Montenegro, acusado por alguns de “fechar os olhos” à situação em Lisboa. “O PSD precisa de uma purga, mas ninguém tem coragem para a fazer”, declarou um antigo vereador do partido, sob anonimato, ao Expresso. A falta de uma resposta unificada agrava a percepção de um partido à deriva.

O PSD em Lisboa está numa encruzilhada. O processo “Tutti-Frutti”, com as suas acusações de corrupção, divisões internas e ramificações judiciais, ameaça não só a coesão do partido como a sua viabilidade eleitoral na capital. Enquanto Carlos Moedas tenta manter a estabilidade, as vozes dissidentes e as polémicas em torno de figuras como Luís Newton e Ângelo Pereira continuam a alimentar a crise. A resolução deste imbróglio exigirá uma liderança assertiva e medidas drásticas para restaurar a confiança, tanto dentro do partido como junto dos lisboetas. Até lá, o PSD arrisca-se a poder chegar às autárquicas de 2025 enfraquecido e vulnerável.

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