Após Marques Mendes ter criticado o silêncio das autoridades políticas, incluindo o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo, o que “revela medo do Ministério Público” e “prejudica a democracia”, o Bloco de Esquerda anunciou esta segunda-feira que vai avançar com uma iniciativa parlamentar para chamar Lucília Gago ao Parlamento. Apesar das críticas de Pedro Nuno Santos sobre as escutas a António Costa, o PS prefere não tomar posição para já. Já o PCP e o Livre assumem apoio, PAN avança com requerimento próprio. Mariana Mortágua diz que a PGR deve essas explicações ao país e à democracia.
Depois de Marques Mendes ter afirmado no seu comentário na SIC, este domingo: “É clarinho como água que a divulgação das escutas foi para tentar prejudicar a candidatura de Costa ao Conselho Europeu”, a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu esta segunda-feira que a Procuradora-Geral da República deve prestar explicações no Parlamento sobre a divulgação de escutas a envolver o ex-primeiro ministro, António Costa.
Marques Mendes, recorde-se, também apontou a falha do Parlamento em chamar a Procuradora-Geral da República para dar explicações sobre o comportamento indevido, e alerta que essa falta de ação instala suspeitas sobre outros possíveis casos semelhantes. “A PGR tem o dever de dar uma explicação. O 25 de Abril fez-se justamente para acabar com estes comportamentos e com estas suspeitas”, alerta na SIC.
Mariana Mortágua respondeu de imediato ao repto de Marques Mendes e anunciou que o BE vai chamar Lucília Gago ao Parlamento. “Faz sentido que a procuradora possa ir ao Parlamento explicar o relatório de atividades do Ministério Público. O Bloco de Esquerda tomará iniciativa nesse sentido, faz sentido que assim seja. (…) Nós há muito tempo que o dizemos, e achamos que sim, que essa relação tem de existir e não existir perante os políticos e o parlamento, mas perante a democracia e o país”, afirmou Mariana Mortágua aos jornalistas depois de uma reunião com o chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal, Nabil Abuznaid.
Mariana Mortágua salientou que está em causa uma audição que a lei já prevê, mas que “não tem acontecido”. A dirigente bloquista defendeu que é preciso prudência em separar política e justiça.
“Acho que devemos sempre ter muita prudência em separar política e justiça e acho que essa é a razão da cautela dos políticos e dos representantes políticos em relação ao Ministério Público (…)”, diz a Coordenadora do bloco de Esquerda.
Para a coordenadora do partido, Lucília Gago tem o dever de explicações e de escrutínio “perante a democracia e não perante um político ou outro político”.
Desde o parágrafo que causou a demissão de António Costa e a queda do seu executivo, o Bloco exigiu explicações públicas à PGR. Quase oito meses depois, Lucília Gago manteve-se sem dar respostas e o partido liderado por Mariana Mortágua decidiu avançar com uma “iniciativa” para que a PRG seja ouvida no Parlamento. “Queríamos acreditar que a PRG não se iria fechar nos muros na Procuradoria e, tento em conta a relevância dos processos, tivesse a sensibilidade de perceber que era necessário prestar esclarecimentos e dialogar com deputados”, disse Fabian Figueiredo, líder parlamentar do BE.
Mariana Mortágua criticou, na passada quarta-feira, as escutas ao ex-primeiro-ministro, considerando inaceitável que sejam mantidas quando não têm relevância criminal, e defendeu que se trata de um caso de ingerência em atos políticos.
A atuação da Procuradora-Geral da República (PGR) na investigação Influencer tem valido críticas dos partidos à esquerda desde a queda da maioria absoluta. A divulgação de escutas sem relevo criminal que envolvem o antigo primeiro-ministro foram o último desenvolvimento que causou um tumulto de várias figuras à esquerda. O Bloco de Esquerda tomou a dianteira e anunciou que irá concretizar a vontade de chamar Lucília Gago ao Parlamento não para falar de casos em concreto, mas para “explicar o relatório de atividades do Ministério Público”.